segunda-feira, novembro 28, 2005

A EPOPÉIA BRASILEIRA DE GUIMARÃES ROSA

No livro de contos PICUMÃS, o autor goiano Alaor Barbosa descreve e narra a fluência da vida numa paisagem goiana que dá seqüência, em novas feições, à mineiridade dos sertões fechados e descampados de terras férteis, ao mesmo tempo sóbrias e fartas. Alaor é de Morrinhos, cidade que conheci quando era goleiro no time de futebol da construtora da Barragem de Cachoeira Dourada, onde trabalhava nos já distantes tempos da mocidade. No livro ele inclui o conto Buracão, que me lembra um que escrevi com igual nome, no qual relatava as estrepolias infantis na Marilândia, e me remete também a outro lugar de igual nome, em Cláudio, onde meu trisavô Bernardo Barreto, Comandante da Guarda Nacional do Desterro, escapou da perseguição aos insurgentes da malograda Revolução Liberal de 1842: escapou mas teve os bens seqüestrados, que lhe foram parcialmente devolvidos depois, quando foi anistiado e promovido do cargo de Capitão ao de Major, do batalhão do Desterro para o da Villa de São Bento do Tamanduá (hoje Itapecerica). A leitura de PICUMÃS propiciou-me, ainda, a relembrança da aprazível região divisória de Minas com Goiás, através do então largo e profundo rio Paranaíba – cenário que utilizei na escritura do romance Apenas Um Coração Solitário (título de um filme da década de 40, que não vi, baseado num romance de Carson McCullers, que não li: como vê a apropriação foi só da tradução do título do filme, que calha a contento no contexto romanesco de uma trilogia inédita). Na atenciosa e gentil carta que me mandou, ele fala de Morrinhos, Cachoeira Dourada, das visitas que já fez à nossa região, passando em Divinópolis, Itapecerica, Arcos, Marilândia, Cláudio, dizendo ser “um amoroso de Minas”, terra de seus ancestrais, que ele generosamente concorre para aureolar nas citações das lendas e mistérios amplamente divulgados através da arte barroca, plástica e literária, de Aleijadinho, Ataíde, Bernardo Guimarães, Drummond, Murilo Mendes, Adélia Prado, e principalmente Guimarães Rosa, sobre o qual escreveu importantes textos, inclusive o que gentilmente me mandou no livro A Epopéia Brasileira Ou: Para Ler Guimarães Rosa, fruto de uma minuciosa pesquisa, de abalizada explanação e de propiciatórias indicações de leituras e releituras da obra roseana, levando-me a tirar da estante o majestoso romance Grande Sertão: Veredas, para ler pela terceira vez. e agora, sem resistir à tentação, valho-me dele, Alaor Barbosa, para agraciar os leitores desta coluna com algumas jóias pinçadas das veredas sertanejas, conforme abaixo: “só nos olhos das pessoas é que eu procurava o macio interno delas”. “A mão de Diadorim, assim apertada de tudo, nela um suave de ser era que me pertencia, um calor, a coisa maciamente. São as palavras?” “Deus não quer consertar nada, Deus é uma plantação...”. O diabo vige dentro do homem, os crespos do homem – ou é um homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si, cidadão,é que não tem diabo nenhum”. “Amizade de amor surpreende uns sinais da alma da gente, a qual é arraial escondido por detrás de sete serras?” assim falava Riobaldo Tatarana, o Urutu-Branco, que tem “culpas em aberto”, mas que ignora quando elas começaram. Pois é assim mesmo a leitura e a releitura da obra de Guimarães Rosa, o primeiro escritor brasileiro a ver no sertão o núcleo da verdadeira cultura brasileira. Até então o que via no povo do litoral era uma vida apenas colonialmente negativa , de costas para o maior atributo da brasilidade que é a interiorização, mediante o que podemos até acreditar num litoral apenas reprodutor e num sertão essencialmente criador, premissa implicitamente levantada pelo movimento modernista de 1922 e certamente consolidada e levada à mais íntima consequência pelo nosso querido Guimarães Rosa. Eu mesmo sou prova de seu cosmopolitismo literário, quando correspondia anos a fio, por via postal, com a escritora tcheca Pavla Ldmilová, que traduziu para a língua dela o Grande Sertão: Veredas: eu sentia nas cartas dela, como ela lá na sua nórdica frieza, vivia encantada no calor das luzes mineiras, baianas, goianas,do nosso Autor. E agora, antes de pegar na estante o livro para a inadiável terceira leitura, não me abstenho de novamente presentear os leitores desta coluna com mais algumas frases que são como epígrafes para os poemas dos próprios leitores, isso com a reverência ao Alaor e a respectiva licença. Ei-las: “Mocidade é tarefa para mais tarde se desmentir”. “A religião: para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura”. “Altas borboletas num desvoejar”. “A gente sabendo que ele (o diabo) não existe, aí é que ele toma conta de tudo”. “Deus existe mesmo quando não há. Existe porque é necessário. Sem Deus é o vazio” “Aprender a viver é que é o viver”. “Perto de muita água, tudo é feliz”. “As horas é que formam o longe”. E assim vai o Riobaldo falando e o Rosa escrevendo: “Não há o bom remorso. Minha antiga pessoa. O amor, já de si, é algum arrependimento. O obedecer do amor é sempre o contrário. Ver, em Goiás, como no mundo cabe o mundo.” Obrigado, Alaor Barbosa, por tantos momentos felizes, vividos agora.

sábado, novembro 26, 2005

MUITO LONGE, AQUI MESMO

Fragmento de um romance inédito, em versos, “Barra Funda – a Evaporação dos Paradigmas”: 

A conversa fiada fragmenta-se na sala de jogos “eu não sou daqui”, alguém diz em voz alta a pausa ressalta o choque das bolas de sinuca “sou lá do brejo”, diz no mesmo tom a voz que gosta de uma boa pausa no meio das palavras “estou aqui é enxugando”, arremata o sinuqueiro a tacada certa de uma em todas as bolas da mesa. Viver é falar e ouvir a linguagem é uma casa de morar. Como farei para consertar minha psique bem longe daqui, daqui a algum tempo? Queria ver o técnico dos projetos em andamento padronizar a complexidade do porvir! O que vou fazer de mim com tanto peso nas costas e no peito? Como aguentar tantas dores ao mesmo tempo, ó meu deus dos instantes de exceção?! AS MULHERES, SEUS VERSOS A vontade cria o impossível e depois chora aos pés dele. enquanto vemos onde está a perfeição vemos a inexistência dos caminhos para alcançá-la. A harmonia noturna (até parece uma lição de Jung) refere-se à interação dos opostos na pugna diurna. Até mesmo a burrice tem o seu encanto, e a ruindade o seu mistério. A sujeira vermelha dos lábios tão puros Os seios de mel do pensamento: a mulher!, o florilégio dos eventos multidimensionais. Ana Cristina César, entre os complementos o gato era um dia imaginado nas palavras. .Dora Tavares, uma tenda para instalar suas maneiras. Heloisa Maranhão, as moradias séptimas esta velha é um pássaro. Henriqueta Lisboa, ave poesia duas gotas de orvalho num bemol. Lacyr Schettino, oh flor obsessiva foi sem antes, e deslembrada. Laís Corrêa de Araújo, luz de uma água sabes da vida a mansa cor? Lara de Lemos, adaga lavrada retomo-te em meus dentes e prossigo. Leonor Vieira-Motta, tudo de bom! melhor ainda fazer das pessoas poemas. Lélia Coelho Frota, alados idílios entre as duas transidas luas. Maria Esther Maciel, a sina de mulher e te senti no além de meu desejo. Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti os azuis se abraçam nos horizontes. Maria Tereza Horta, as nossas madrugadas e possuíres de mim o que não sabes. Renata Pallotini, de cavaquinho a guitarra envelhecias, forma empedernida. Oga Savary, a noite dessa tarde solidão, então me invento. Regina Célia Colônia, sonha que o sol de fora é o de dentro. Terezinha Alves Pereira, persiana de flores meu senhor de olhar de espumas.

A INQUIETA DOÇURA DE JULLIETE BINOCHE

A estrela do lado de fora do céu declinava dos caminhos secundários da viagem reclinava no colo da moça aa partir dos carinhos inversos, em versos a chuva pianística borbulhava nas pedras que eram espumas antes de serem lágrimas as luzes respingam as almácégas do rosto demoram nos olhos demorados da âncora convivial no meio dos marmelos, andadeiras e agapantos. Os anelos contidos tocam flautas e glândulas modelam o corpo na plasticidade a voz de meio-soprano canta nos olhos a revoada dos harpejos a inspiração das baladas o cravo a cair na emboscada o violino a cair no vendaval uma das pernas na minha direção a outra na direção contrária. “A minha liberdade é a dos bichos”, ela solfeja em compasso ternário no palco de paredes trincadas das outras miragens.

quinta-feira, novembro 24, 2005

LITERATURA E SOCIEDADE

Revendo velhas notas redigidas sobre os grandes trágicos da modernidade, entre os quais Dostoievski, Proust, Dickens, Thomas Mann, Marcel Camus, Pirandelo, Joyce, Brecht, Virginia Wolf, Ibsen, Yourcemar, Eugene O’Neil, Artur Miller, Tennesse Willians, , Kafka, Freud, Borges, Lorca, Rilke, Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto,Drummond, Mário de Andrade, Clarisse Lispector, Cecília Meireles, Manuel Bandeira, Nelson Rodrigues, Guimarães Rosa, Murilo Rubião etc, lembro-me das palavras de um crítico (se não me engano, o Cyro Siqueira) sobre o mundo ficcional de William Faulkner, no qual é impossível viver sem perder, constantemente, a sanidade física e mental. Pois é este o nosso mundo, independentemente das interpretações do crítico e do próprio romancista: um produto exclusivo das políticas governamentais de nosso tempo na maior parte do mundo e particularmente no Brasil. Às vezes fico observando as pessoas nas ruas e até me admiro de não estarem, todas, doidinhas da silva. A angústia que então me assalta quase me adoece – e tenho que forcejar muito para não perder a fé em Deus e nos homens. Fico pensando, por exemplo, nas pessoas mais velhas, em como elas agüentam tantas cobranças das mais jovens. Seriam culpadas pelas trapalhadas da vida social contemporânea? Penso, também, na situação quase claustrofóbica dos mais jovens, confinados em si mesmos, sem pontos de vista e de apoio, sem perspectivas de horizontes descortináveis...: como eles aguentam segurar essa barra e recalcar tantas limitações? E as crianças de nossos dias? Sorriem na beleza e na doçura, inocentes da realidade. E os jovens, adultos e idosos que também conseguem sorrir na doçura e na beleza das coisas de graça oferecidas pela natureza, apesar dos abismos que estão fora da moldura risonha? Penso que são os heróis de nosso tempo, eles que conseguem saltar os obstáculos, atravessar ruas, trevos, rodovias, os meses e anos, sem se atropelarem, sem se estreparem. São os personagens de Dostoievski, de Faulkner, de Nelson Rodrigues. Um sociólogo que tivesse tempo e dinheiro, paciência e talento, bem que podia levantar as causas e efeitos dessa tragédia brasileira, traçar a radiografia e apontar o diagnóstico, sabendo de antemão que toda a sangria do sofrimento é culpa exclusiva do modelo errôneo de governar os lugares e as populações. Quando penso, com base no que aprendi em anos de vida e estudos, percebo claramente que a administração pública brasileira vem errando desde o Descobrimento, e errando muito mais nos dias atuais, quando se desobriga de proteger a terra e o povo e se ocupa, de forma categórica, acintosa e desavergonhada na fabricação dos apocalipses embutidos na corrupção que campeia de alto a baixo, no encaminhamento das medidas desleais e desonestas que atritam as convulsões do desesperante desemprego crônico, do favorecimento da corriola de corruptos encastelados nas salvaguardas hediondas dos três poderes maculados que projetam e executam em alta recreação as manjadas medidas da chamada responsabilidade fiscal, do chamado superávit primário, medidas que resultam no deprimente quadro da crise exposta e não resolvida pelas comissões parlamentares de inquéritos, ou seja, na perpétua compra de votos de vereador a presidente da República, através do superfaturamento das obras (que para eles são apenas meios e não fins). É um quadro tétrico, de filme de ação da máfia dos cleros e partidos que, de Brasília, dão ao resto do pais o mau exemplo do tal caixa dois que já faz parte da nossa cultura, como eles alegam. Depois de saquearem a Amazônia e a própria dignidade do povo, estão agora empenhados na destruição do Rio são Francisco e do Pantanal, isso sem falar no sucateamento das ferrovias e rodovias e da nefanda incentivação da criminalidade impune a partir da própria elite política. Meu deus!, e ainda ficam insolentes quando alguém mostra que estão nus e feios, feiosamente nus. eles: fhc, azeredo, lula, zédirceu, genoino, etc,( infinitamente etcétara?): eles, mesmo enfatiados, estão despudoradamente exibindo suas vergonhas. Ái de nós. Vergonha nossa também?!

quarta-feira, novembro 23, 2005

AMAR É VIVER - EM GODARD

Tua voz teus olhos tuas mãos teus lábios Nossos silêncios nossas palavras A luz que vai, a luz que vem (os cabelos que brilham no escuro as doces menções de belas esfinges) o mesmo sorriso em nós, a mesma necessidade de saber a noite de criar o dia sem que isso afetasse nossos semblantes O que todos amam o que apenas um (eu ou você) ama ah, mesmo em silêncio sua boca promete ser feliz, promete a felicidade... Quanto mais longe, diz o ódio Quanto mais perto,diz o amor pela caricia sensual abdicamos de nossa infância amadurecemos ao ver as formas humanas como diálogos de amor cada coração tem uma só boca... Para todas as coisas são todas as palavras que pensamos e dizemos... Mas porque sei que te amo vejo tudo movimentar... Para viver bastar seguir na direção do que amamos... Ainda agora estou indo na sua direção na doce direção da luz chamativa... e você sorri, para melhormente me invadir: olha como vejo os ráios de seus braços entreabrindo a névoa. 

(*) Paráfrase de uma sequência do filme ALPHAVILE, de Jean-Luc Godard.

ERA (AS)SIM

O tempo antigo (o de hoje está cada vez mais longe) 
Tinha calma e ponderação 
Subia nas descidas 
Tinha manhãs cheias de nove horas 
Tardes espaçosas, noites eternas 
O traquina amarrava cachorro com lingüiça 
O sisudo cofiava os bigodes de tabaco 
A palavra era toda feita de honra 
Sílaba por sílaba 
O que mais valia no final das contas 
Era o crédito-o-débito-e-o-saldo 
Em perene equilÍbrio (!?) 
Nos salmos de david 
Nos choros de pixinguinha nos noturnos de chopin 
Algumas partes do corpo vinham da alma 
Os pães eram uvas do quintal 
No tempo antigo de minha terra natal.

INSTÂNTANEO INTEMPORAL

Os cabelos longos e negros
Como o manto da noite fechada
Cobrem-lhe a cabeça
Ensombrecem-lhe o rosto
E assim a lua de cada olhar

Sem ser vista
Interroga
Dando tantas respostas.
Do outro lado do espelho
Fica o poema da musa
Ele e ela atracados
No mesmo livro diáfano.

Depois uma luz diferente amacia
O riste empedernido do dia
Quando
A profunda negritude dos cabelos
Cobrem-lhe a cabeça
E
Ensombrecem-lhe a face.

terça-feira, novembro 22, 2005

A ÁGUA NOSSA DE CADA DIA

O Professor (em Divinópolis, Itaúna, Belo Horizonte) Antônio de Oliveira esteve recentemente em nossa cidade, participando de um evento cultural do Curso de Letras do INESP, organizado pelo Doutor Pedro Pires Bessa. Na oportunidade relemos suas crônicas suplicadas no AGORA Literário do final da década de 60, que tanto influenciavam os leitores mediante a boa qualidade dos textos, tanto na escorreição da linguagem quanto na estilização do enfoque consciente, maduro e alentador. Tempos difíceis aqueles da década de 60? O que terá mudado para melhor neste quase meio século? É doloroso reconhecer que praticamente mudou muito mal. Até parece que o mundo corre em volta de si mesmo, como um cão atrás do próprio rabo? Mudam as formas, mas os conteúdos são sempre os mesmos em pioradas edições? A mesma classe dirigente gananciosa impondo seus desaforos a uma classe dirigida desvalida, perdida como cego em tiroteio, desferindo, também, seus errôneos, descalibrados petardos? Uma oposição política que se torna situação – e a situação continua discrepante, injusta, irrisória? Perdão, leitores, se resvalo nos obstáculos. 

Ainda há pouco falávamos do professor-escritor Antônio de Oliveira. Tenho em mãos seu livro O HOMEM E A ÁGUA – Uma epígrafe para o Itaunense e o São João. Tenho a dizer, nestas entrelinhas, que Divinópolis sentiu a falta dele como pessoa e professor – e até parece que o fato dele deslocar-se para Itaúna influiu no fato (lamentado por muita gente daqui, na época} de nossa cidade perder justamente para Itauna a patente de Cidade Educativa de Minas num concurso nacional então promovido pelo Ministério da Educação, honraria que merecidamente ostenta até hoje. O livro fala belamente (e verdadeiramente) sobre a desolada, lamentável destruição de mais um dos rios por assim dizer históricos de Minas. Depois do Rio Vermelho, de Itapecerica, do Pitangui, de Pitangui e do Itapecerica, de Divinópolis, o São João, de Itauna, também agoniza no flagelo da sede de um solo desmatado, um lençol freático minguado, um ar seco e às vezes inclemente, além de poluido. Poluição, aliás, que emporcalha e corrói as três dimensões (subsolo, solo, ar) dos lugares de nossa vida cotidiana. 

Ao prezado Antônio de Oliveira desejo, no entanto, erguer um brinde: ninguém até hoje escreveu texto mais belo e verdadeiro, verde e azul sobre o cinza-amarelo da dessacralização da natureza. Na página 27 ele registra a constatação: “O São Francisco, rio da unidade nacional, diminuiu sua vasão em cem metros cúbicos por segundo, em 46 anos; o Rio Pará, em vinte metros cúbicos por segundo. E o nosso ex-rio São João, atual ribeirão, candidato a córrego, poderá vir a secar”. E na página 44 ele grava um necessário décimo primeiro Mandamento: “Herdarás o solo sagrado e a fertilidade será transmitida de geração em geração. Protejerás os campos contra a erosão e as florestas contra a devastação. Impedirás que as fontes sequem, que as espécies animais se extingam, que o fogo devaste os campos”.

NOVO JORNALISMO DIVINOPOLITANO

Sem uma linha de conduta calcada em princípios éticos saudáveis, a imprensa acaba caindo nos braços do oficialismo e assim perde o próprio sentido, tornando-se uma espécie de armazém de secos e molhados, que cobra do governo para elogiá-lo e cobra igualmente para não criticá-lo. Refém e algoz é o que cada uma das partes acaba sendo para a outra, desmoralizando-se reciprocamente, enquanto que o leitor, excluído, assiste o jogo espúrio, sem meios para acreditar ou não no louvor e na crítica. O resultado é a inutilidade e o desserviço tanto da publicação como da divulgação, e assim o papel do jornal na vida social cotidiana é o mesmo que de embrulhar mandiocas, ou seja, duplamente feiosos. Em Divinópolis foi mais ou menos sempre assim? E nas outras cidades, e nas capitais? Se se peneirarmos finamente..., mas ah, deixa a infelicidade da constatação pra lá, né? Ademais, há sempre uma luz no fim do túnel, não é verdade? Agora, por exemplo, graças aos Cursos de Comunicação das Faculdades locais, o nosso jornalismo está dando um belo salto de qualidade. Aquele ranço de picardia e de truismo que exalava seus odores desde os tempos dos truculentos boletins do X Gontijo, está felizmente sendo substituido pela convivência civilizada dos atuais editores. É sabidamente incontestável que o verdadeiro jornalismo (para ser o quarto poder, como às vezes se apresenta), tem que alinhar-se na luta política a favor da população e da natureza, sem jamais submetera-se à vassalagem do pragmatismo oportunista da classe dirigente dos capitalistas gananciosos e dos politiqueiros corruptos. A rigor, poucos jornais marcaram presença em nossa cidade, em seus 93 anos de existência. E mais de l00 deles circularam nesse tempo, quase deles com vida curta, o que evidencia a precariedade cultural e financeira do contexto, largamente inibidor de umdesempenho menos inglório. As pequenas tiragens encalham-se às vezes, malgrado o esforço que não consegue sobrepujar a dificuldade, uma vez que o leitor não é atraido e a publicidade é quase sempre minguada, pontificando nela a verba pública do referido oficialismo geralmente contabilizado no conluio da corrupção politiqueira, onipresente em quase todos os niveis estruturais de nossa pobre nacionalidade. A rigor só mesmo o A SEMANA, o DIÁRIO DO OESTE, o AGORA, o AQUI PRA NÓS (o único que remunerava seus colaboradores), o GAZETA DO OESTE e o nosso querido MAGAZINE conseguiram a proeza de mesmos através de dificuldades apresentarem por mais tempo uma relevante folha de serviços sociais. Na oportunidade não ps. deixar de citar os jornalistas que na minha opinião brilharam nesta imprensa quase sempre ao mesmo tempo agônica e renascente: Frei Odulfo, Ataliba Lago, Frei Bernardino, Carlos Altivo, João Augusto Dias, Inácio Vasconcelos, Maria Cândida, Juca Mariano, Jotha Lee, Marlene Moreira, Mercemiro de Oliveira, Lindolfo Fagundes, Pedro Pires Bessa, Fernando Teixeira, Cibele Leite, etc etc.Por outro lado e retornando ao título deste artigo, tenho o prazer de afirmar que, abrindo semanalmente os jornais da cidade, posso recompor minha fé no ofício, lendo e aprendendo com as apresentações auspiciosas dos novos formandos dos curso de Comunicação das Faculdades locais (que estão de parabéns pela felicidade dos resultados ). Falo especialmente dos textos de Ana Paula Azevedo, Aline Andrade, Alesandro Corrêa, Igsson César, Luana Noronha, Katiuscia Freitas, e da presença cênica de Mayra Belém na tela da TV Candidés ao lado de Agnel Marques, reforçando o feliz impulso do belo salto de qualidade de nossa imprensa nos dias que correm. O que é, na verdade, uma bela e feliz maturidade da juventude (por assim dizer). s

FAMÍLIA OLIVEIRA BARRETO - Introdução

Genealogia 
Casal Antônio José de Oliveira Barreto E Anna Joaquina Cândida de Castro 

– Notas e Comentários Lázaro Barreto 

“A felicidade capaz de suscitar novos anseios está inteira no ar que respiramos, nos homens com os quais poderíamos ter conversado, nas mulheres que poderíamos ter amado. A imagem da felicidade, como a do passado, traz consigo um índice misterioso que a impele à da redenção. Pois não somos tomados por um sopro no ar respirado antes? Não existem nas vozes que escutamos, ecos daquelas que emudeceram? ” 
– Walter Benjamim. 

Agradecimentos: Raimundo José Tavares, Nair Tavares da Cunha, Inês Belém Barreto, Fernando Ielpo Jannuzzi Junior, Ruy Barreto, Márcia Campos Barreto, Edgar Mourão, Iara Notini, Fátima Amaral de Melo, Lineu Carvalho, Constantino Barbosa, Paulo Henrique Belém Barreto, Ana Paula Belém Barreto, Darly Tavares da Silva, Dario Cardoso Vale, Aristóteles Rodrigues, Amaury Diniz do Nascimento, Flávio Marcos dos Passos, Maria das Graças Barreto, Marcos Moreira, Nilza Oliveira Amorim, Salete Micheline Oliveira.

A IMORREDOURA MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA

Lendo Pessoa e seus heterônimos no recesso de uma ou outra solidão, é como se andasse, como se estivesse em todo o campo da visão, e tivesse de quando em quando que parar, para não arrebatar-me: é como se adentrasse no corpo da amada e tivesse de quando em quando que pausar para não sufocar: é como se não pudesse parar no rumo de um vislumbre que se afastasse em seus brilhos atraentes (brilhos ou sonhos que são insultos divinos?): como se de repente me perdesse na imensidade solitária do mar, beirando e respeitando a integridade das ilhas afortunadas: - às vezes surge de algum lugar alguém (um deus? uma deusa?) a transcender, a novamente embargar-me o fôlego. E assim dentro de mim algo maior que eu, sorri: e é ali mesmo que vejo o corpo que é alma: é como se nadasse, arfando, nos limbos da sensualidade, numa tesão espiritual interminável? Assim prestes a morrer de infarto, de parada cardíaca (?) e tivesse que interromper o orgasmo até que o brilho desanuviasse na testa da bem, da muito bem amada.... Ler Pessoa e seus heterônimos é a (a)ventura de acreditar que estamos captando uma outra eternidade: “a ânsia distante que perto chora”: “a graça invisível que se vê”: porque além do lirismo mais verídico, ficamos sabendo “que o amor só é verdadeiro se segredado”, que ao fechar abrimos o coração que sonha, que sonha que todo início é “uma outra espécie de fim”: “QUALQUER COISA ASSIM COMO UM PERDÃO?” (*) Os versos entre aspas foram pinçados do livro MENSAGEM (Edt.Martin Claret, São Paulo, SP, 2005). NOTA AO PÉ DA PÁGINA Ver hoje o noticiário na TV é como assistir filmes de suspense e de terror. A população brasileira é, de um modo genérico, apática, não vê o trem chegar nem sair (e o trem tá feio, como lá diz a canção folclórica): só fica a ver os navios da desolação, a coçar os sacos de pancadas da própria miséria, pensando que está (onde devia estar) no melhor dos mundos. E nessa mornidão toda é bem capaz de reeleger o Lula – e aí a cobra vai fumar, vamos ver esse nefando PT (partido totalitário) sair mais uma vez de suas atribuições meramente políticas, para exercer (execravelmente, antidemocraticamente) um governo comprovadamente incompetente, e agora com a militância não apenas sorrateira, mas gritantemente credenciada ao cometimento de maiores e piores desatinos. Assim penso que é hora de se exclamar: PARTE SADIA DA NAÇÃO, ACORDAI!

PAGU – VÍTIMA DA ANTROPOFAGIA E DO TOTALITARISMO

A leitura de “PAIXÃO PAGU - A Autobiografia Precoce de Patrícia Galvão” (AGIR – RJ, 2005), enfatiza espontaneamente os seguintes pontos: - a ideologia inflexível, o tacão totalitário da expansiva revolução soviética; os abomináveis meios de um fim hipoteticamente colimado; a liderança ignorante da própria hediondez; a militância hedionda em sua obediente cegueira; o atrelamento do servilhismo com a prepotência; a pergunta: ninguém desconfiava que a imposição de um despotismo (comunista) em lugar de outro (capitalista) não seria, afinal de contas, uma barganha de cebolas?; outra pergunta: os chavões de ordens unidas não aterrorizavam nem ridicularizavam?; no caso da paixão e do sacrifício de Pagu, sobressái a galanteria obscena, assediante e estranhamente consentida de Oswald de Andrade, um notório comedor de mulheres (cuja propagação da chamada ANTROPOFAGIA não teria uma camuflada conotação de intencionalidade sexual?). Espantoso também é notar como ela suportou tanto tempo a imposição dos chefes e companheiros de panfletagem no papel de verdadeiros gigolôs da subversão da ordem, que insistiam em prostituí-la com a finalidade de obter as informações almejadas na campanha. Isso ofendia a pobre moça, que se defendia argumentando que não era nem jamais tinha sido uma prostituta, alegação que não funcionava diante do chavão dogmático de que os fins justificavam os meios. Se ela fosse uma ninfomaníaca, tudo bem, mas não era, ao contrário, depois de sofrer atos sexuais que podem ser caracterizados de estupros, ela propendia mais para a frigidez do que para o desejo. Sabemos que qualquer teoria ideológica contém em sua roupagem uma primária probalidade que logo transige para uma também primária convicção. Mas isso não assegura o respaldo na prática, uma vez que entre a teoria e a prática se erguem os muros de Berlim, as cercas de arame farpado, os fornos crematórios, os hospitais psiquiátricos, a lavagem cerebral mo processamento da tal de autocrítica e outros procedimentos criminosos dos nefandos regimes totalitários. A teoria e a prática são entidades diferentes: uma é o fôlego do espírito e a outra, o osso do corpo. Ambas estão vivas na pessoa, mas uma é fluídica , abstratamente arraigada, enquanto que a outra (a prática) é tangível, pesadona, concretamente arraigada.Na vida nossa de cada dia o espírito até que pode empurrar o corpo na luta, mas se o corpo reclama, o espírito retrái, assim como quando ele mesmo se fere em demasia o próprio corpo também cansa de insistir e de pelejar. É porisso, talvez, que as teorias de regimes políticos de exceção não conseguem a vigência seqüencial ao longo do tempo. A humanidade é heterogênea: cada ser humano possui as mesmas atribuições físicas, mas a diferença na formação psico-educacional resulta na diferenciação entre o corpo e o espírito das pessoas em geral, ou seja, a identidade física nem sempre se coaduna com a identidade espiritual. Na juventude já ofendida e deflorada, mas ainda imatura e solerte, ela procura encontrar pessoas e causas autênticas – e a questão social veio à tona e disso ao ativismo político foi um passo arriscado, mas consciente. Deixou-se influenciar facilmente pelos entusiastas ideológicos, experimentados e convincentes planfetarios, nos quais acreditou piamente, envolvendo-se prematura e canhestramente na linha periclitante de uma causa nobre porém utópica. O aproveitamento da alheia experiência é espontâneo, dispensa os preâmbulos da dogmatização. Surda e cega aos ditames do subconsciente, essa mola ao mesmo tempo de retranca e de propulsão, ela atingiu precipitadamente a maturidade do sofrimento (um sofrimento que geralmente vem de fora, mas que ela, de dentro, buscava?). E quanto mais tentava compartilhar apreensões, mais solitariamente apreensiva ficava. Os outros, de um modo geral, na vida rotineira, fazem sofrer muito mais do que fazem gozar? Toda aproximação exige, pois, que um pé fique sempre atrás? Temos que em ir em círculos e não retamente? A depressão que vara a noite tem que ser reerguida tão logo o novo dia desponta? Bernard Shaw defendia o celibato porque acreditava que no casamento um dos cônjuges quer não apenas o corpo mas também a alma do outro. Pagu, de repente, ficou assim como que despojada (e não desposada) na companhia de Oswald de Andrade? Se pelo menos, no caso, o possuidor não fizesse do possuído um objeto sujeito à paulatina depreciação...,como se ela não fosse mais que um bibelô sexualizado....descrente do afeiçoamento conjugal, ela acreditou que dissolvendo-se no amor ao próximo encontraria a intimidade de sua pessoa.... Entregando-se à luta pelas causas sociais, ela descuidou-se da contrapartida reacionária cada mais exigente e mais odiosa no interior das próprias células acionadas. Toda vez que ficava sozinha no calabouço funerário das refregas e desgastes, sentia, amargurada, como e porque poderia, naquele entrave existencial, continuar amando Oswald e o comunismo, se ambos, apenas usavam e abusavam dela, sem nenhum reconhecimento ou retribuição.... A fina, langorosa, nobre poesia da carta ao filho Rudá. Ela fala e repete que a visita dele para ela era a Visita da Vida: a beleza da dor, a dor da beleza, a redenção de um erro cometido não por ela,doce criatura, mas pelo destino às vezes tão cruel justamente em relação à doçura da inocência. Que vida era a dela em 1931: perseguida pela Polícia, manipulada pelo Partido. O que lhe restava? Um ridículo sofrimento, que só depois ela percebeu ser desproposital e inútil: uma sublevação frágil e restrita contra um força armada ditatorial poderosa e inescrupulosa. Mas vemos, hoje, que apesar da inocuidade, aquela sublevação pontuava o brio da nacionalidade sucessivamente ofendida em seus estatutos constitucionais. Representava a sinalização de vida salutar num corpo historicamente mórbido. Mas aqueles militantes tinham consciência desse lado nobre de seus malfadados esforços, ou apenas catalogavam fracassos na luta? O certo é que seus sacrifícios brilham sempre no mapa histórico brasileiro como excepcionais momentos de lucidez de uma dignidade infelizmente ameaçada por uma classe dirigente que ao longo do tempo só dirige a favor da própria sustentação. Mas ela, Pagu, sendo nas células sublevadas uma pessoa da classe média e não da proletária, pagou mais caro e sofria duplamente, chegando à beira do martírio, sem apoio da família, da própria classe social e (vejam só) do próprio Partido, um organismo desumano em sua encarniçada conjuntura internacional. A atitude falsa que produz o sorriso complascente – assim começa a decomposição de uma personalidade não de toda solidificada. Sabia que o próprio Oswald a considerava “apenas a vivacidade de uma canalhice bem feita”. Canalha, era a palavra que ela não dizia a respeito dele, mas era a que certamente sentia a respeito dele. Na verdade chego a pensar que o comportamento obsceno dele não seria o mesmo de um deslavado pedófilo? Confiada no que ela acreditava ser a dele uma versão tupiniquim do existencialismo em voga na Europa, ela se deixa levar por ele como uma simples adolescente ingênua. E sem atinar que se humilhava, ela o defendia, num sufocado arroubo de grandeza pessoal e ele, assim engrandecido pelo perdão dela, mais se pavoneava na deslealdade de um algoz consciente contra uma vítima inconsciente. Mesmo ignorando a natureza e o grau das sacanagens dele, cruamente reveladas, eu sempre antipatizei com aquela obesa empáfia dele, certamente copiada em floreios absorvidos de fontes alienígenas, floreios com os quais ele enganava outros êmulos igualmente supérfluos do movimento literário de 1922. Na verdade sempre estranhei a ascendência dele no referido Movimento em detrimento a outros autores mais talentosos e de melhores consistências intrínsecas, não munidos pela farolice do “esnobismo casanovista” , que ela mesma reconhecia nele. Antes de ler este livro, ignorava o rosário de decepções (agora mesmo, folheando o livro, contei oito sacanagens dele e outro tanto do Partido contra ela, pobre desvalida, que certamente em outros ambientes seria uma bela e grande escritora) que ela teria sofrido nas mãos dele e do Partido, mas conhecendo os antecedentes de seu rumoroso comportamento já imaginava as modalidades de crueldades mentais dele castigando-a a ponto dela sentir (como confessa) nojo por ele e pelo próprio ato sexual – isso depois do tamanho da decepção na intimidade conjugal deles. Mas livrando-se dos desmandos matrimoniais e embarcando na aventura do ativismo planfetário, o que será mesmo que ela esperava encontrar de positivo? Qual o encanto de uma pregação ideológica que não surtia efeito e que hoje, vista friamente, estava mais para um repeteco quixotesco do que para um balbucio válido no contexto dos projetos revolucionários internacionais, que todavia não dispensavam aderências mesmo reconhecendo a inocuidade da movimentação brasileira? Havia sim e ainda há e sempre haverá o campo da necessidade de uma luta revolucionária para defenestrar a letargia e erigir o dinamismo. Mas tal luta teria cabimento num país despolitizado? A liderança desatenta não teria previsto que todo esforço resultaria em perseguições, cadeias, aniquilamentos? Não existiam as boas cabeças pensantes na orientação e liderança? A ideologia política precisa ser repensada, precisa talvez aprender, com o cristianismo mais cristalino, que a única revolução humana que pode dar certo é a que não almeja nenhum domínio a ferro e fogo, mas aquele que busca apenas arrancar do coração humano a ganância, a impiedade, a violência. Nada de raeencarnações de mortandades e burocracias russas, nada de máfias que se alternam nas chamadas posições ideológicas de direita, de centro e de esquerda. Nada de nós, o povo, continuar pagando para sofrer. Ela diz e repete que com as prisões e a obrigatória separação do filho, sua vida pessoal desapareceu. Ela que era uma pessoa doce e até ainda impúbere,tão delgada e feminina. Por que foi tão brutalmente desviada de uma possível felicidade? Ela que podia ter se devotado mais amplamente à literatura,seu primeiro amor, sua primeira vocação, e ter escrito romances e poemas alongados e expressivos – e hoje ninguém estaria chorando por ela, mas sorrindo. Mesmo chorando, no entanto, aplaudimos sua pessoa, não seu sacrifício. “Sua obra maior é a própria vida, pautada pela busca do novo e pelo combate às injustiças” – é o que está escrito numa das orelhas do livro.

QUASE UM TERÇO DE MINAS GERAIS

Em nossa casa, durante a infância e adolescência dos filhos, sempre programávamos as duas férias escolares anuais visando o aproveitamento simultâneo da recreação e da cultura. Assim íamos aos lugares aprazíveis: Caraça, Furnas, Pocinhos de águas Verdes, São Tomé das Letras, Aiuruoca, Caldas, Angra dos Reis, Serra da Canastra; aos lugares salutares: Cambuquira,Caxambu, Lambari, São Lourenço, Poços de Caldas, Araxá; às praias litorâneas: Cabo Frio, Búzios, Copacabana, as de Santa Catarina e as do Espírito Santo; às cidades históricas: Parati, Aparecida do Norte, Barbacena, São João del Rei, Tiradentes, Campanha, Congonhas de Campos, Sabará,Caetés,Barão de Cocais,Belo Horizonte, São Paulo, Santa Bárbara, Ouro Preto, Mariana, Serro, Diamantina, Baependi. Viajávamos por alta recreação, sem seguir os roteiros turísticos, ecológicos e históricos. Quando tomamos conhecimento dos roteiros das agências de viagens e dos meios de comunicação é que notamos a injusta ausência neles de três cidades que conheceram o esplendor da fase aurífera das minas gerais por mais de cem anos: estou falando de Pitangui, a sexta vila criada em 1715; de Itapecerica, a nona vila criada em 1789; e de Paracatu, a décima terceira, criada em 1798. O território delas emendavam-se, perfazendo uma área que abriga hoje centenas de municípios, que começava no Sul de Minas, passava pelo Oeste, ia ao Triângulo, seguia pelo Alto do Paranaíba até desembocar no Estado de Goiás, confrontando, à esquerda com os Estados de São e de Goiás. A grandiosidade geográfica está bem estampada no mapa, circunscrevendo grandes rios (Pará, São Francisco, Paranaíba), destacados relevos (Canastra, Saudade), planaltos e campinas, várzeas, cerrados e capoeiras, jazidas remanescentes de ouro e diamante (Itapecerica, Estrela do Sul, Paracatu), sítios arqueológicos (Pains, Arcos, Araxá, Triângulo Mineiro), as chamadas Picadas de Goiás (o caminho-mestre e as variantes abertas pelos bandeirantes paulistas em demanda às minas de Goiás, quando as das Gerais começavam exaurir). O deslumbrante paisagismo natural: as verdes extensões que se perdiam de vista, cortadas aqui e ali pelo fluxo das águas correntes formando os remansos, as cascatas e as cachoeiras; a amenidade do clima constantemente oxigenado pela cobertura vegetal inteiriça, continuamente regenerada; pelos bons ofícios da cultura popular que preserva um certo arcaísmo tecnológico nos chamados grotões, rico no anedotário, na literatura oral, no artesanato decorativo e funcional, no cancioneiro popular, no comportamento mineireiro, na cozinha caipira mais requintada, no moinho rifoneiro da sabedoria popular, tudo configurando um dos países das gerais, de identidade quase autônoma, como se saltasse das páginas da extensa mineiridade roseana, tudo assim na cultura material dos fazeres e na cultura imaterial dos dizeres. Sob o ponto de vista histórico há uma rica bibliografia a respeito, e neste ponto Pitangui é melhormente dotada: o livro “Pesquisando a História de Pitangui”, de Silvio Gabriel Diniz, abre as páginas do sucesso local desde o descobrimento,passando pela fartura da mineração, do povoamento, das cartas de datas e de sesmarias, da organização política da Casa da Câmara e do Senado da Câmara, a descrição topográfica, os bens e as rendas, os fatos e feitos, remetendo a outros historiadores como Feu de Carvalho, Salomão de Vasconcelos, Basiliode Magalhães Abílio Barreto, Revistas e Códices do Aquivo Público Mineiro etc. Já Itapecerica dispõe de consistentes fragmentos em livros de Dom Gil Antônio Moreira, Constantino Barbosa, José Bernardino Correia, Célia Lamounier Araújo, e esparsas (e boas) publicações de Antônio C.F. Paz, Jorge Malaquias do Couto, Levy Beirigo Malaquias e Outros, mas prescinde, ainda, de um texto abrangente, que especifique as principais coordenadas de seu processo histórico. Sabemos da importância de seu alinhamento no contexto da colonização, os efeitos de sua polarização regional, mas ficamos na ausência de um inventário interpretativo das causas, das conseqüências e do legado permanecente. Isso falta não só à Itapecerica como também aParacatu:a edição de uma obra que esclareça, narrando, descrevendo e definindo sua história, ou seja, a marca de vida humana em seu antigo e dilatado espaço, em seu antigo e dilatado tempo. A respeito de Paracatu, o distanciamento geográfico dos grandes centros dificulta o entendimento de suas coordenadas históricas e eu, pessoalmente, só disponho do lado literário da região, que é rico e instigante, mencionado por autores como Oliveira Mello,Alceu Amoroso Lima, Afonso Arinosde Melo Franco, FernandoRubinger, Maria da Conceição Amaral e os estrangeiros John Mawe, Barão Von Eschwege, Saint-Hilaire, Emanuel Pohl, Bernanos. A visão panorâmica das três cidades é de uma paisagem colonial mesclada, oferecendo os sinais evolutivos na variação dos estilos arquitetônicos amalgamados na sucessão de mais de dois séculos. São três cidades que primam pela ausência (quero dizer, que tanta falta faz) no calendário dos eventos oficiais e no roteiro das programações turísticas, que deviam atentar mais para a conciliação do gosto do entretenimento com o do entendimento, sem dissociar o contentamento da aprendizagem instintiva, descansativa.

VEREADORA MARIA JOSÉ BARRETO

Filha de José Valentim Barreto e de Isolina Gonçalves Guimarães, neta de José d`Oliveira Barreto e de Maria Tereza de Jesus Barreto, de Itelvita Cândida Teixeira de Castro Amorim e de Alfredo Gonçalves Guimarães; bisneta de Antônio José de Oliveira Barreto e de Maria Arcângela Tavares, de Antônio Antero Amorim e de Maria Cândida Teixeira; trineta de Bernardo José de Oliveira Barreto e de Josepha Maria de Jesus, de Antônio Gonçalves Guimarães e de Maria Cândida Tostes; tetraneta do português de Santa Cristina de Aroens, Villa de Guimarães, Arcebispado de Braga, Antônio José de oliveira Barreto e de Anna Joaquina Cândida de Castro, de Cristóvão José Gonçalves Guimarães e de Rosa Victória dos Passos; pentaneta do português Gregório de Oliveira Barreto e de Maria Rosária de Freitas, de Faustino José de Castro (fidalgo português} e de Rosa Angélica da Luz (descendente de ilustres membros da nobiliarquia paulista e de renomados bandeirantes), de Francisco Vaz Tostes e de Anna Cândida de Jesus. 

Nascida em 08/05/l939 e falecida em 20/07/l994, em Marilândia, município de Itapecerica, MG. Funcionária pública estadual lotada na Secretaria de Estado da Educação. Diplomada pelo Juiz-Presidente da Junta Eleitoral de Itapecerica na eleição de l5/ll/l972, cargo que desempenhou sem remuneração, com sucesso, graças aos bons ofícios de sua gestão, conseguindo a pavimentação asfáltica das duas pistas de rolamento da rua principal do Distrito, a implantação do Sistema Elétrico CEMIG, e a urbanização da Praça da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro, sendo autora do projeto que, aprovado, homenageou postumamente a Manuel Carvalho da Silva, que em l754 construiu a igreja e fez doação de l40 alqueires de terra para constituir o Patrimônio da mesma, dando para sempre o nome dele à Praça da referida Igreja. Pessoa afável e comunicativa, sempre participou da vida política e social do Distrito, visando sempre o bem estar social da população.

ESCRITORES DE BRASÍLIA

Se muitos políticos de Brasília estão enfeiando e desvalorizando a Política, em contrapartida muitos escritores de Brasília estão embelezando e valorizando a Literatura. Suponho que muitos desses bons escritores são funcionários públicos desencantados com a disfunção do maquinismo do poder público e, na medida do possível, tiram de vez em quando uma licença poética e fazem uma necessária limpeza psíquica para continuarem a viver na roda (rodeio?) dos performáticos roedores da nação. Ninguém é de ferro para agüentar diuturnamente o cenário da desmoralização, não é mesmo? Aí esses talentosos escritores e escritoras regressam mentalmente a outros tempos e lugares, ficam munidos materialmente dos elementos criativos para contornarem as estrepolias politiqueiras, agora mesmo tão desnudadas pelo crivo (redentor? pizzarento?) de tantas comissões parlamentares de inquéritos. I - Pupilas Ovais, de Rosângela Vieira Rocha. O regresso subliminar, evocativo (revigorante?), à vida corriqueira de sua luminosa Inhapim: meticulosa radiografia de uma cidade mineira de pequeno porte e de colossal impregnação vitalícia. Que começa com a invocação matinal dos desejos, e segue pelos dias, meses e anos rotineiros que não machucam, até sentir-se inquilina de um certo corpo alheio diante da cena emblemática de um ser malévolo corrompendo um ser benévolo, ou seja, a das pupilas ovais da jaracuçu hipnotizando as pupilas normais do sapo. A dicotomia das visões pensamentais e oculares, o pequeno enxoval de uma velhice finalmente assumida, apesar do ilusionismo perseverante; a oportuna (e ocasional) apropriação dos versos de uma canção que passa do gênero popular para o pessoal. e depois a boca fica seca, a língua empedrada, a tontura da desilusão. A infeliz conseqüência dos anos passando: a profunda entrada na testa, a feiosa barriga estufando, tanta refrega diante da eterna mineirice da sopa de inhame com lingüiça. A mocinha crédula a dormir nua, na casa dos tios, vestindo o pensamento e os sonhos de pilhas e mais pilhas de livros que um dia escreveria. E aí vem a pergunta lancinante: o estupro suja mais a vítima que o algoz, que continua lampeiro, jaracuçu na tocaia? E depois vem a constrangida, infausta generosidade da vítima diante da hipocrisia generalizada do meio social, que proporciona a pútrida impunidade da atroz vilania. Aí então só mesmo o recurso do chá quente para empurrar as lágrimas igualmente tórridas. Para o destempero da vida, uma boa salada bem temperada, ela parece dizer. O rol das estórias desencontradas do-cada-dia de cada pessoa de casa-em-casa da pequena cidade do interior: o rosário das penas comuns, distribuídas pela fatalidade: a sorte ou sina é o amargo prêmio no cotidiano de cada uma das pessoas. E aí vem de repente a pobre viúva a rezar na patética igreja os mistérios dolorosos: sente que se se tocar, só encontrará o próprio coração, a bater fora do ritmo. Então o amor não é regido pelo merecimento?, pensa a mocinha apaixonada pelo vampiro do seriado de tevê, a esmiuçar indefinidamente os encantos fantasiosos de Edimburgo, palco sobrenatural das sombras tenebrosas do seriado repentinamente tirado do ar por escassês de audiência. Ela fica sem a fantasia, mas agasalha dentro de si a certeza de que a esperança e o desejo são dois sentimentos que nunca lhe faltarão nos esvaziados dias porvindouros. Mais consciência e menos culto da personalidade, a autora parece dizer nas entrelinhas, olhando, angustiada, onde só se vê políticos cabalando. Ah, é assim mesmo a naturalidade da articulação retilínea de uma narrativa eivada de uma espécie de facilidade na qual as estórias contam-se sozinhas, prescindindo de seus contadores. Aí está, pois, a inteireza do livro, não como a de um lençol curto para o frio, mas como um ventilador para arejar a sufocante temperatura ambientada num humanismo desvirtuado, numa poética cerceada pelo prosaísmo circunstancial. Rosângela Vieira Rocha, sem forçar a idéia, sem colorir a imagem, vai livro adentro e afora confirmando o moinho rifoneiro, segundo o qual quem conta um conto aumenta um ponto. Ela, em vez do ponto final acrescenta, não a interrogação ou a exclamação. mas,sim, a vírgula, ou o ponto e vírgula, ou os dois pontos, ou, melhor, a reticência...

AS AMARGAS REFERÊNCIAS DA ATUALIDADE

Poluição divinopolitana. A nossa cidade possui uma grandeza e uma beleza superlativas, vistas de uma certa distância. O traçado das artérias largas e compridas, emolduradas pelas imponentes edificações amenizadas pelo arvoredo das calçadas, perfazendo o paisagismo sublinhado pelo rio sinuoso, salpicado de pontes e viadutos. Impressionante. Mas se chegamos perto e adentramos as ruas e beiramos as margens do rio, a impressão e a sensação são outras: o solo depreciado por calçamento e asfaltamento sofríveis, recoberto de pó de minério (tapam os buracos com ele, vê se isso tem cabimento!?). O rio transformado em cloaca o ano inteiro e reduzido a um fétido canal de esgoto em todo o período de estiagem do ano. E as toneladas de entulhos, lixos, escórias utilizados para nivelar terrenos erodidos nas margens do rio, “construindo” ali, irresponsavelmente, loteamentos para futuras construções imobiliárias? É só vendo para crer. E o que se há de fazer?, perguntam-me. Não sou especialista, sequer entendido, de urbanização científica, mas creio que para transformar a cidade hoje irrespirável numa cidade limpa, bonita e agradável, bastaria que o poder público dela, que vive nela, não fique de longe nas providências, mas que chegue bem perto do problema, para sofrê-lo como os demais habitantes. Assim, quem sabe?, poderão fazer dela uma beleza e uma grandeza próximas e humanas, uma cidade mais habitável, mais amável. Não? Sim? O futebolzinho peladeiro. O reporter esportivo da televisão, por má fé ou displicência, anunciava outro dia que o Cruzeiro ia poupar alguns titulares no jogo contra o time argentino. Titulares de verdade o time só dispõe de dois, O Maurinho e o Maldonado. Os outros foram trocados por euros que, todos sabem, não jogam futebol. Afinal o que será que deu nos irmãos perrela: a síndrome tucana da desapropriação (que eles em tucanês chamam de privatização)? Petês e Tucanês Nunca Mais? É muita invasão e pouca privacidade nos dias que correm. Nem dentro da igreja, rezando você se sente seguro . Nas ruas, então, é uma temeridade. Tempos atrás as pessoas desconhecidas eram apenas desconhecidas e até mesmo possíveis novos amigos, mas hoje em dia, meu Deus, são todas suspeitas até prova em contrário. Se toda essa infelicidade (resultado infeliz do desempenho infeliz dos infelizes governantes) não bastasse, ainda vem lá no horizonte a infeliz truculência do tal de Bush para engrossar a corriola dos autores de nefandos genocídios (Hitler, Stalin, Truman), com a psicopática invasão do Iraque, causando pelo menos indiretamente as catástrofes do ll de Novembro, do tsumani, do katrina. Ainda agora vemos na televisão um esquivo e manipulado esforço para livrar os implicados na crise política da rigorosa, da cabal punição que fizeram por merecer, embasbacando mais uma vez a opinião publica Se a ladraoagem está mais do que provada, por que a punição não vem logo a seguir? Sem a purificação dos quadros não há refundação. Que a política brasileira se mire no bom exemplo citado outro dia pelo Senador Pedro Simon a respeito das atuações positivas de estadistas (que infelizmente não chegaram a governar) Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Teotônio Vilela, Leonel Brizola, Miguel Arraes... Por serem bons nas idéias e nas ações é que jamais conseguiram ocupar a governabilidade deste país? É bom notar que nenhum deles pertenceu ideologicamente à chamada esquerda radical ou à direita convicta: eram simplesmente homens de bem (de bem de acordo com os princípios e predicados cristãos). É bom atentar também que o conceito de esquerda atualmente está sob o crivo da suspeição, uma vez que essa terrível tentativa de petetizar o pais pode ser uma atitude esquerdista? Cruz credo.

POR QUE O PRESIDENTE ESTÁ RINDO?

O Brasil tem o menor índice de escolaridade entre os países do Mercosul – e o pior é que isso começa logo no Presidente Lula, que nunca se esforçou para ir além do beabá de nosso agora infortúnio. O jornalista Elio Gaspari afirma que ele leva uma hora para ler uma lauda de papel comum ou uma página de livro, e que ele mesmo se gaba entre os amigos de que nunca leu um livro sequer, na vida. O mais estranho de toda essa ignorância é ter merecido o voto de mais da metade da população brasileira, e o aval da parte mais consciente (?) de nossa intelectualidade, à qual ele virou as costas tão logo se instalou nas suítes e poltronas dos melhores hotéis e aviões do mundo. Lembro-me dele uma vez dizendo na televisão que seu sonho político era possibilitar um dia que cada trabalhador pudesse todo dia, finda a jornada ativa, passar no boteco mais disponível e tomar uma geladinha espumante. Na época não liguei, mas agora fico pensando se este não é o sonho de todo alcoólatra.... Mais estranho ainda é que eu mesmo votei nele quatro vezes, sem nem de longe pensar que ia dar no que deu: baboseira e corrupção, corrupção e baboseira. Aliás, ocorre-me agora que a primeira vez que o vi pessoalmente foi numa pizzaria aqui de Divinópolis, brindando no seu manjado alterocopismo a esperançosa e burlada massa de militantes, Meu Deus que me perdoe, mas essa suspeita de alcoolismo ocorreu-me novamente outro dia, ao vê-lo pela televisão em reunião com os devotados companheiros da patota, em pleno palácio da mais negra alvorada, a dizer que os depufedes indicados para cassação de seus mandatos não são corruptos, mas sim, bons companheiros de luta. Das duas uma: ou ele estava bêbado ao falar tal disparate ou a gente é que estava ao ouvir tal disparate. E pensar que o Brasil já foi um verdadeiro paraíso antes da lamentável invasão alienígena. Terra amada e cantada por patriotas briosos como Gonçalves Dias, Casemiro de Abreu, Castro Alves, Olavo Bilac, Machado de Assis, Joaquim Nabuco, Afonso Arinos, Gilberto Freire, Luiz da Câmara Cascudo, Mário de Andrade, Graciliano Ramos, Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Emilio Moura, Jorge de Lima, Dantas Motta, João Cabral de Melo Neto, Murilo Mendes, Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles, Antônio Cândido, Sérgio Buarque de Holanda, Mário Quintana, Noel Rosa, Pixinguinha, Ary Barroso, Antônio Carlos Jobim, Dorival Caymi, Clarice Lispector, Murilo Rubião, Adélia Prado, e agora uma pátria enxovalhada pela execrável patota lulista dos zédirceus, genoinos, delúbios, valérios, valdomiros, sem falar na tucanada de igual deformação. Mais uma vez, pois, a piedade (poesia) leva outra surra da violência (política). Ninguém de boa índole fica a favor do armamento, mas também ninguém pode confessar publicamente que está à mercê do bandido, inteiramente passivo e desarmado. E a transposição do São Francisco? Outra trapaça petista para esvaziar as intenções corretivas das CPI’s, acreditando que a boa pizza só é boa mesmo quando servido fria. Até mesmo uma criança brincando no quintal sabe que se desviar vários reguinhos de um rego, para multiplicar a direção das águas, o que vai acontecer, isso qualquer criança sabe, é que os reguinhos desviados vão secar logo adiante – e é assim que a chamada transposição passa a chamar-se extinção. Tudo isso e a má notícia dos terremotos e furacões e a constatação científica que o Everest (o monte mais alto do mundo) está diminuindo de altura por causa do aquecimento planetário (queima abusiva dos gases e das matas).... Ah, é muita atrocidade para os nossos dias.... Haja Deus.

O HOMEM COM A ENXADA

Assim eu via o homem com a enxada no eito, naqueles tempos, naquelas palavras de Edwin Markhan (*): vergado aos tonéis do tempo, ele se vale da ferramenta que é seu corpo e fita, desencantado, o vazio circundante. A velhice prematura mudou seu rosto, Que ainda sofre as devastações dos maus tratos. Quem foi que sufocou sua indignação, que máquina o amansou no roçado da fazenda? quem assim descoloriu seus olhos? quem apagou o clarão de sua mente? É este o ser que Deus criou para espelhar a beleza de Sua imagem, a verdade de Sua semelhança?, para proteger os elementos da natureza e no caminho das estrelas aventurar-se? É esta a criatura destinada a captar o tempo e esgota-lo, sem esgotar-se? É este o sonho de Deus, que virou o pesadelo de Deus? Da sacada ao último vórtice do inferno não há visão mais terrível do que esta mais prenhe de denúncias contra o erro mais prenhe de presságios contra o abuso mais prenhe de ameaças contra o mundo inteiro. Um abismo se abre entre ele e Platão. O que vale o frêmito das plêiades em face do seu labor inócuo e escravo? E mesmo o rasgo alucinado da aurora e a poética gestação das rosas? Por esse vulto sem aura os tempos repressivos espionam. E, esquálido a lutar no eito infinito, ele é o exemplo vivo das vivas distorções. Por seus lábios murchos e descorados toda a humanidade traída e deserdada clama surdamente aos juízes da terra, num clamor com o timbre da profecia. Ó empresários e políticos de toda parte: o fruto de vossa gestão é esse ser encarquilhado, quase monstruoso ao despedaçar-se? Quando devolvereis a ele a humanidade, a seus olhos a luz, a seu espírito a substância? Quando a música entrará de novo em seus poros e os sonhos em seus desejos, desagravando as infâmias, as perfídias, as desgraças? Ò tecnocratas desumanos do planeta: como o futuro se dará comesse homem, quando com ele, num crepúsculo, defrontar? Que respostas terá para suas perguntas, quando a revolta se tornar um ciclone abrangente? O que estará reservado aos privilegiados de hoje (os mesmos que o reduziram à última baixeza), quando esse pobre homem combalido, rompendo o mutismo secular de tantos outros, replicar bem alto e forte? 

(*) Edwin Markhan (l852-l940), poeta norte-americano, escreveu o poema “O Homem coma Enxada”, depois de ver o quadro mundialmente famoso de Lillet. O texto acima é uma tradução livre, calcada (em termos de paráfrase), numa tadução de Oswaldino Marques, publicada na edição bilíngüe de “Poemas Famosos da Língua Inglesa”, Editora CivilizaçãoBrasileira, Rio de Janeiro, l956.

O CLÁSSICO E A VANGUARDA NA LITERATURA

É claro que hoje as expressões concretismo, neo-concretismo, poema-praxis, poema-processo e quejandas estão desusadas, quase obsoletas, remetendo ao lugar comum de coisa datada, mesmo considerando que qualquer coisa que tenha um referencial passadista é gratuitamente taxada de datada. E na verdade só mesmo o que não sucumbe ao rolar dos anos e eras é que se sobrepõe ao circuito da temporalidade e dispensa o passado e o futuro porque é sempre coisa presente. Muitas e grandes obras de arte são assim eternamente atuais – e também algumas idéias, imagens e pessoas transcendem as respectivas datas de irrompimento e fixam-se no calendário como os ritos de passagem, que se deixam passar mas que em si mesmo não passam na turbilhonante imensidão do tempo. Por mais chamativo e gracioso que seja o arranjo das vogais e consoantes sem as palavras consecutivas e ordenadas na folha de papel, nunca substituirão a imagem pictórica da arte plástica, que vai mais diretamente ao assunto visado, sem os rodeios simbólicos do visualismo artificioso. Lembro-me que uma vez, quando um poeta concretista do Suplemento Literário do Minas (de BH) disse ao então poeta discursivo AdãoVentura que a palavra tinha morrido, recebeu em resposta do último o pedido: “você me dá então sua máquina de escrever?” É certo que a evolução dos costumes nem sempre é programada e que a poesia brasileira tinha que transigir no envoltório do perpassar das etapas históricas que influi no comportamento das pessoas, resultando na naturalíssima sucessão de estilos e formas de expressão da angústia de viver num mundo regido pela batuta da interminável rotação das esferas cósmicas. É natural, pois, quês os chamados estilos de época reciclem seus objetivos, seguindo ou puxando a esteira das renovações comportamentais, adquirindo conotações e nomeações ocasionais sob o influxo de um pretendido avanço vanguardista. Assim transcorrem os ciclos: romantismo, naturalismo, parnasianismo, modernismo, concretismo, surrealismo,pós-modernismo..., tudo se encadeando no rol dos trâmites normais, com as naturais distorções e acertos: a infeliz prevalência influenciadora de Oswald sobre Mário de Andrade; os concretistas enviesando pelo desatino do poema-processo, optando assim pela facilidade dos apressados e não pela argúcia erudita dos Irmãos Campos e Outros igualmente aquinhoados. E tudo aconteceu como está registrado e contextualizado O que se quebrou diamante não era, como diria o sempre bem lembrado Drummond, autor que jamais será relegado ao passadismo, que criou seu estilo sem jamais abdicar do experimentalismo das formas. Outros bons exemplos de instigadores do assíduo experimentalismo não faltam. Ainda agora estamos novamente diante do incontentável e voluntarioso Ronaldo Werneck, novamente abrindo portas e janelas para tantas claridades inspirativas. Ele acaba de lançar em grande estilo o livro RONALDO REVISITA WERNECK SELVAGGIA , que surpreende Zuenir Ventura pela “polissemia, polivalência, politalento” de um habilidoso manejador de signos que ama a palavra a ponto de movê-la no espaço gráfico com a desenvoltura de mestre, reavivando-a no vai-e-vem das destinações e remetências, no arranjo visual do cine-poema de seus artifícios por assim dizer instintivos. Uma boa reviviscência para todos. Bem haja, pois. A CRISE: DOIS PONTOS A atual crise política ilustra a tese de que o sonho da oposição é tornar-se situação, mesmo que para realizá-la tenha que repetir o comportamento que sempre combateu. Assim é que configura o dito popular de que o sujo critica o mal lavado? Se o disparo das setas não destruir o alvo, ele vai apenas alimentá-lo e robustece- lo. Assim acontece com o malogrado petismo ao trocar as cebolas mal cheirosas de uma doença (incurável?). Todas as tentativas de acabar com o capitalismo (feudalismo, totalitarismo ou o que outro nomes tenha} só serviram para fortalecê-lo. Toda vez que uma nova ideologia se levantava para defrontá-lo, logo ele a absorvia, digeria, expurgava o que considerava excrescência e assimilava as essências.É mais ou menos isso o que o antropólogo David Graeber diz, repetindo uma frase feita da patota do PASQUIM na sua bela e renhida luta contra o reacionarismo sistêmico da classe dirigente: o projétil que não destrói o alvo, alimenta-o.

A PREOCUPAÇÃO NOSSA DE CADA DIA

A corrupção Corrupção, corrupção, até quando serás o único prato de vida social a aumentar a nossa fome de equilíbrio e dignidade existenciais? Terrorismo Eis como o cineasta (de filmes de terror) George Romero formula a metáfora da sociedade moderna, criadora e vítima dos zumbis de nossos dias: “Há razões pelas quais as pessoas estão nos atacando, e não estamos pensando suficientemente nelas. Estamos, sim, nos protegendo cada vez mais, mas a cerca que nos guarda também nos prende”. Ele é o autor da trilogia dos filmes: A Noite dos Mortos Vivos (l968), Despertar dos Mortos (l978) e Dia dos Mortos (l985). Ele falou e disse a propósito dos atentado terroristas que estão em evidência no painel das preocupações de nossos dias. O pó de minério Perguntar não ofende, conforme o jargão usado por quem não sabe e quer saber. Eu sei que o ar puro faz muito bem à saúde dos seres vivos e que, modernamente, as pessoas são obrigadas a receber e digerir todos os ares impuros da civilização industrializada. O ser humano acostuma e tolera quase tudo, em toda parte. Disso não há como discordar ou escapulir. São os chamados ossos do ofício de viver. Mas não sei é se as autoridades municipais da área de Saúde Pública não sabem o mal que o pó de mineiro causa não só ao aspecto visual-estético da paisagem urbana como aos pulmões, brônquios e tantas outras partes de nosso pobre corpo. Se sabem, por que então deixam que se esparramem no solo de todos os bairros da cidade esse fatídico pó? Expediente calhorda e insalubre ao mesmo tempo, não? Será que as siderúrgicas locais não têm lugares apropriados para consumir essa avalanche de lixo, usada indevidamente para tapar os buracos das ruas de todos os bairros da cidade? Os pulmões são frágeis quando expostos a tais malefícios...,não? O sonho acabou? Comunismo, socialismo, são formas de governo inaceitáveis em tempos pragmáticos de fisiologismo político que mistura no mesmo balaio os trabalhadores, os empresários e os políticos no barco doido da corrupção, como forma de subsistência, de sobrevivência. São belíssimas ideologias, aperfeiçoadoras do próprio cristianismo. Mas na pratica não deu certo na China, na URSS e em outras partes, inclusive em nosso país, como bem demonstram as comissões parlamentares de inquéritos. Mas o sonho não pode morrer e sua finalidade salutar é tornar-se o sucedâneo da utopia. E quando isso vai acontecer no Brasil? Quando nossa classe política vai ser depurada e amadurecer eticamente? Temos nomes exemplares (Pedro Simon, Heloisa Helena, Paulo Paim, Patrus Ananias, Eduardo Suplici, José de Alencar), mas os que dão mau exemplo (os depufedes na fila dos mensalões e mensalamas) são muito mais numerosos, muito , muito mesmo. Quem vai inventar uma forma de convertê-los ao exercício da dignidade? Achamento de Portugal Realcei acima alguns políticos exemplares, numa citação de passagem, pois sei que existem outros igualmente aquinhoados. Mas a generalidade do quadro é bem desoladora. Digo isso porque preciso citar aqui, também, o belíssimo livro editado pelo Consulado de Portugal em Belo Horizonte, de título em epígrafe. Organizado por Wilmar Silva, contendo 40 poemas de 40 autores (entre os quais os prezados amigos Camilo Lara, Adriana Versiani, Alécio Cunha e Maria Esther Maciel), quase todos nascidos na década (emblemática) de 60, quase todos portadores de cursos superiores e de Mestrado e Doutorado das melhores universidades do país e do estrangeiro. E lendo o livro uma curiosidade me ocorre, indagando: por que nesta altura nenhum deles se aventurou na política, sendo todos tão talentosos e versáteis culturalmente? Nenhum deles!, e a política precisa tanto de seus clarões do amor à verdade e à beleza. Por que? A política anda desmoralizada, pouco atraente? Não é (ela) um ofício essencial ao bem estar geral das nações e das pessoas? Não é, também, uma bela forma de fazer poesia? Anda em tão maus lençóis que desestimula as verdadeiras vocações de instauração de um humanismo mais agregado socialmente, mais feliz coletivamente?

SABOREANDO PELAS BEIRADAS I

Recital Dazibao. Um espetáculo empolgante na Praça da Catedral, em frente ao Museu Histórico. Sob a coordenação do escritor Camilo Lara, a atriz Ana Gusmão exibe sua genialidade histriônica transigindo (indo e voltando) incisivamente das expressões dramáticas e trágicas como se a incorporação viesse de onde já estava, no fundo e na superfície, sem premeditação, sem despojamento. Qualidade rara nos atores escolados e profissionais. A segunda parte do espetáculo interliga o diapasão interpretativo, com o Grupo Coletivo Criado Mudo, ilustrando à viva voz a incorporação cênica-dinâmica de um poema de Adriana Versiani de infinitos níveis de significação, desde a referência nostálgica dos Beatles na musicalidade polifônica das vozes, dos metais, dos sopros e da indisciplinada e no entanto funcional e persuasiva coreografia. Uma epifania momentânea e memorável. Fico imaginando na (quem sabe) possibilidade desse pessoal aproveitar novos textos da Adriana e também, depois (quem sabe) a adaptação da trilogia de Sófocles (Antígona, Rei Édipo, Édipo em Colono) com as duas equipes na mesma tônica e elasticidade, argúcia e persuasão, beleza e dor, flor e espinho, a tragédia dos seres vivos verdadeiros e não dos fantoches. Palimpsesto. O que é maravilhoso na literatura é a noção que nos dá que tudo já foi dito e no entanto tudo está por dizer, que a Vida, incluindo nela o Mundo, é o palimpsesto ágil e prolongado, é a idéia e a imagem, coladas na tela ágil e prolongada do palimpsesto: a história e a geografia vão e não nos levam na mesma escada rolante, levando a frente do Tempo trazendo o verso do Tempo numa variação de tons que nos acorda de um sonho mais lúcido do que tantos outros irresolvidos e indisponíveis O Dom da Palavra Qualquer palavra, uma vez amada, fica inesquecível... o dossel da árvore e da cama é a mesma palavra que pode ocultar-se, mas se o faz é para preservar suas ramificações surpreendentes. O olhar é uma palavra e é um olhar a mesma versificação da prosa na poetização dos afagos e desventuras. Nem que passem meses e anos a palavra tangível de um certo olhar está gravada para conservar na treva uma certa luz na janela dos anos. As Mulheres e Seus Versos Adélia Prado, as asas na bagagem esta tarde inesquecível Deus me deu. Ana Cristina César, entre os complementos o gato era um dia imaginado nas palavras. Ana Hatherly, por onde sobe a bruma a noite por dentro do mar todo vermelho. Ái dos pusilânimes, Cecília Meireles que não é alegre nem triste, é poeta. Christina Rosseti, é melhor que contente me esqueças, que me lembres e te entristeças. Nunca levaste dentro de si uma estrela dormida?

FIDALGOS MINEIROS

Os Ottoni, Descendentes e Colaterais (*)

Vieram de Portugal, originários da Itália, nas primeiras décadas do século 18. No histórico percurso deles no Brasil consta a passagem por São Paulo em 1727. Um deles, o Manoel Vieira Ottoni, nasceu no Rio de Janeiro em 1727 e em 1732 contraia núpcias no Serro (MG), com Anna Felizarda do Prado Leme. O casal formou o núcleo principal da família, que legou ao Brasil ilustres descendentes. De 1764 a 1786 Manoel e Anna tiveram 17 filhos (em apenas 22 anos!), entre os quais cinco com o mesmo nome de Anna, sendo as primeiras Anna do Prado Leme Ottoni e as outras com os apostos Izidóra e Felizarda. Os demais se chamavam José, Joaquim, Francisco, Manoel (dois), Thereza, Jorge e Antônio. Todos imponentes e importantes no contexto histórico (social, político e cultural) de mais de duzentos anos de nosso desenvolvimento, que se hoje dá-nos a convicção de emperramento é por esquecimento e não por lembrança deles, ou seja, pela ausência nos quadros decisórios da nacionalidade de pessoas da mesma estirpe e descortínio. De minha parte destaco principalmente a exuberante figura humana de Teófilo Benedicto Ottoni (1807-1869), filho de Jorge Benedicto Ottoni e de Rosália de Souza Maia, casado com Carlota Amália de Azevedo Cunha. Ele estudou no Rio de Janeiro e ao voltar à terra natal trouxe uma pequena tipografia para imprimir sua famosa gazeta “A Sentinela do Serro”, na qual defendia suas idéias liberais e democráticas em plena hegemonia imperial. Foi eleito deputado provincial duas vezes e duas vezes deputado geral (federal). Participou da célebre Revolução Liberal de 1842, na qual meu trisavô Bernardo José de Oliveira Barreto também participou, Movimento que terminou com a derrota dos rebeldes em Santa Luzia, no confronto militar com as tropas do Exército, comandadas pelo Duque de Caxias – e assim foi preso e depois anistiado (O Bernardo não chegou a ser preso, mas foi processado e teve os bens seqüestrados – cópias da documentação em meu poder). Trabalhei no Serro, com a Professora Maria Eremita de Souza (citada no livro de Laís, que estou abordando) numa pesquisa sobre a cultural popular de Minas – e fiquei boquiaberto no dia em que cheguei lá, indo de Belo Horizonte, já ao cair da tarde, sentindo-me como se retrocedesse no tempo e chegasse na plenitude de uma cidadela barroca no ápice do ciclo da exuberância aurífera das minas gerais. Na verdade o que sinto até hoje é que o Serro é a cidade histórica mais bem preservada de Minas, uma vez que o culto da arte barroca de viver ainda persiste e exorbita no próprio comportamento das pessoas e se espelha com fidelidade no paisagismo urbanístico. Naquela época (em 1992) os homens andavam pelas ruas de gravatas e as mulheres de chapéus, em plena luz do dia; não existiam as notórias lanchonetes de toda parte, apenas bares e botecos, nos quais os notívagos se embalavam aos sons da música de seresta e não dos metais globalizados. Hoje, depois dos desgovernos tucanos e petistas, não sei como anda a preservação do bom gosto lá, mas será uma pena se estiver, também, estereotipado no modismo tão rasteiro de nossos dias. Ah, conheci lá, na fonte da beleza, tanta beleza! Quem cultiva as boas coisas do passado, a arte, a religiosidade, a ombridade, a sociabilidade, a confiabilidade. tem que ir lá e ficar sabendo que estes valores não são fictícios, mas já existiram, sim. Conheci, entre tantos sítios e paragens encantatórias não só criadas pelas mãos divinas como também pelas mãos humanas. A Casa onde viveu o Teófilo Ottoni, por exemplo, é um venerando, um museu de preciosidades, e também os monumentos públicos erguidos pela Municipalidade para homenagear suas virtudes cívicas e operacionais. Foi lá que ele sonhava realizar o sonho (que realizou!) , como atesta Laís, “de ligar o sertão de Minas a um porto do mar, em linha reta, atravessando a mata virgem”. Assim, com denodo e competência, ele conseguiu chegar até a bela cidade que hoje ostenta seu nome, já quase nos umbrais de Porto Seguro, onde o Brasil nasceu. Depois foi eleito Senador e faleceu aos 62 anos, benquisto e glorioso. “Os detalhes da epopéia que foi a vida de Teófilo Ottoni, fogem aos objetivos deste trabalho, podem ser estudados nos livros “A Revolução de 1842”, do Cônego Marinho, e na biografia “Teófilo Ottoni – Ministro do Povo”, de Paulo Pinheiro Chagas.” Assim a autora conclui belamente seu belo livro. 

(*) O livro é de autoria de Laís Ottoni Barbosa Ferreira, publicado no Rio de Janeiro, em 1998.

PRIMEIRA VIAGEM AO SERRO (**). 
Anos depois, a subir a Serra do Cipó (à procura do que mais temia?). 
Os cabelos brancos doíam na cabeça (seriam ervas sapecadas de orvalho?). 
O céu nublado comprime o nó na garganta os liames enroscam as escarpas frontais as diferentes cores do vento ileso (estou mais erodido, anos depois?). 
Os abismos são belezas nocivas e tardias? 
logo chego à florença dos purgatórios medievais: tão linda serrania tanto tempo acordada! (os liames ainda enroscam as escarpas frontais?) 
O escasso gado a pastar a pedra farta... 
... estou mais remoçado, anos depois? 

(**) Poema que escrevi quanto trabalhava na pesquisa do livro inédito “Os Horizontes do Itambé – Cultura Popular nos Municípios de Conceição do Mato Dentro, Serro e Diamantina”, indo de Belo Horizonte.

domingo, novembro 20, 2005

ÉDIPO, DOS MALES O MAIOR

Sua martirizada figura transborda da mitologia e da literatura oral da eterna e universal Grécia dos deuses, heróis e sábios. Sua convicção pessoal de inocência, abalroada pela imposição social da mácula de culpas terríveis, como a de parricídio e incesto, abre a cortina da tragédia humana e assume a relevância cenográfica na perícia de Sófocles, autor que não esgota o assunto em foco, mas que, depois de aproveitar dele o que mais lhe interessa, devolve-o às névoas da progressiva escuridão que exigem novas lanternas de esclarecedoras prospecções. E aí irrompem os comichões intelectuais, o caudaloso rio das interrogações e exclamações – e é assim que Freud se adianta, lúcido e sensível, a explorar o filão do hereditário sentimento de culpa diante do pecado e da purgação, revelando os ângulos da tragédia do arrependimento que acompanha a consciência do erro cometido, levando em consideração o papel do inconsciente individual/coletivo que parece apontar sempre para o lado de uma incessante errância humana, que inviabiliza a bênção de uma absolvição. Estamos todos, então, sufocados no mesmo barco insensato da culpabilidade? “Se estamos imersos em uma realidade onde o sonho é cada vez mais difícil e obriga-nos à constatação coletiva de que o inconsciente está em permanente movimento de fuga, nunca onde esperamos que esteja”, - assim escreve Miriam Chnaiderman sobre a tragédia comum do dia-a-dia de todos os mortais da humanidade. Naquele tempo Apolo proibiu a Laio e a Jocasta (rei e rainha de Tebas) que tivessem filhos, sob pena do pai ser morto pelo primeiro que nascesse. Desobedeceram – e tão logo Édipo nasceu foi levado para longe e abandonado ao relento e às feras, sendo depois encontrado, são e salvo, pelos pastores de Pólibo, rei de Corinto, que achou graça no menino e adotou-o como filho. Sabendo, depois de crescido, que carregava a maldição, e julgando ser filho de Pólibo, saiu de Corinto e, no caminho, encontra uns viandantes, com os quais arenga e, sendo atacado, em defesa mata os antagonistas, sem saber que um deles era Laio, seu verdadeiro pai. Seguindo a esmo pelos caminhos do mundo afora, encontra a Esfinge e decifra seu Enigma, que, indecifrável, causava o massacre paulatino da juventude tebana: como prêmio ele desposa a rainha Jocasta, sem saber que ela era sua mãe, e com ela tem os filhos Eteócles, Polinices, Ismena e Antígona (esta, uma das mais belas e doces figuras da mitologia e da tragédia gregas). Depois, por causa do incesto não punido, nova epidemia assola Tebas, e Creonte (tio e cunhado de Édipo) vai a Delfos consultar o Oráculo, que vaticina que o mal de Tebas não será extirpado enquanto o assassinato de Laio não for punido. Aí entra o adivinho Tirésias e aponta Édipo como o autor do crime. Concatenando os indícios e dados de sua vida passada, ele se conscientiza da culpabilidade e se desespera, fura os próprios olhos, para não ver os filhos incestuosos, e Jocasta, sua mãe e esposa, enforca-se na cortina do palácio. Perseguido ´por Creonte e exilado em Colono (arrebaldes de Atenas), ele é apaziguado por Teseu,com as palavras: “quando se aquieta o espírito, as ameaças se desvanecem”; e pela elegante sobriedade do Coro, que menciona as impregnações da cultura imaterial da paisagem crivada de sinalizações icônicas da história, das lendas, do imaginário e das tradições inventariadas no patrimônio da terra e do povo no reinado ateniense de Teseu. Uma história para ser lida chorando pelas pessoas irmanadas no mesmo fluxo sanguíneo do corpo e da alma: o filho que é marido, os irmãos que são tios e sobrinhos, os deuses humanamente desarrazoados, as crianças abanando os ramos suplicantes, a maldade capaz de enfrentar as pedras: afinal o sofrimento é que dá ao ser humano o tamanho de sua grandeza? Na bagagem dos arautos estão a sabedoria da piedade ou as inconveniências dos deuses atritados lá entre eles no empíreo olímpico? Como seria doce viver fora dos males!, exclama, condoída, Antígona, irmã e filha de Édipo, a quem protege e ama como irmã e filha.... Sim, eis aí, pois, uma das raízes do problema mais complexo que nem Freud explica. Ou explica? Se o nosso inconsciente subverte o silogismo cartesiano, aí então é que o instinto aproveita e corrompe o pensamento antes incólume? A carne tenta e o ferro entra, como lá diz o aforismo escatológico. Na dúvida, quem não recua, avança, avança ou debanda, ladeando, pois se ficar vira estátua de sal gelado, cái em depressão. Vejo a voz, diz o cego Édipo, e também as oliveiras, os loureiros, os vinhedos, as fúrias, as eunêmides (umas temerosas, outras generosas). Vejo a voz, ele diz, carregado de amores dolorosos, de infindáveis aflições.

sábado, novembro 19, 2005

ACERVO CULTURAL

Coleção Particular. 1 – Correspondência com Carlos Drummond de Andrade. 2 – Idem com Ana Hatherly, escritora portuguesa. 3 – Idem com Pavla Lidmilová, escritora da Tchecoslováquia. 4 – Idem com Ruy Barreto, escritor e pesquisador. 5 – Idem com Fernando Jannuzzi, escritor e ´pesquisador. 6 – Idem com vários escritores (pasta Amizades Literárias). 7 – Coleção Quase Completa do Jornal O PASQUIM. 8 – Idem do jornal SUPLEMENTO LITERÁRIO DO MINAS GERAIS. 9 – Idem de quase todos os jornais culturais publicados em Divinópolis. 10 – Idem de quase todos os recortes de textos do autor publicados nos jornais de Divinópolis no período de 1966 até os dias de hoje. 11 – Coleção de fotos antigas. 12 – Coleção de cadernos de Anotações de Pesquisas de Campo e Bibliográficas sobre temas genealógicos. 13 – Coleção de cópias de Documentos Genealógicos Preciosos. 14 – Coleção de vídeos de filmes antigos. 15 – Coleção de discos clássicos da MPB. 16 – Coleção de Notas de Pesquisas das Histórias dos Municípios de Divinópolis, Arcos ,Desterro, Arantina, Onça do Pitangui, Itapecerica etc. 17 – Coleções de cadernos de anotações e de livros de Maria José Barreto, Sebastião Gontijo e Elpídio Barreto. 18 – Coleção de CD’s e Disquetes a respeito de várias genealogias. 20 – Cadernos manuscritos sob a rubrica EMPIRISMO. 21 – Várias pastas com notas bibliográficas sobre a obra do autor. LIVROS NAS ESTANTES DA BIBLIOTECA: - Literatura: Romance, Poesia, Conto, Ensaio. - Teatro: comédia, drama, tragédia, ensaios. - Cinema: crítica, biografias, ensaios. - Outros Gêneros: Sociologia, Filosofia, Religião, Folclore etc. - História: Geral, do Brasil, de Minas, dos Municípios, Genealogia etc. - Dicionários, enciclopédias, mapas, folhetos sobre turismo, etc. - Arqueologia: fósseis coletados na região. - Artes Plásticas: coleções de álbuns, revistas, quadros originais e reproduzidos e alguns originais de arte popular. TRABALHOS PESSOAIS (Publicados e Em Preparo): - 8 (oito) livros publicados em Divinópolis, Belo Horizonte, Petrópolis e Rio de Janeiro. - Participação em seis antologias (em Belo Horizonte, Argentina, Polônia, Rio de Janeiro). - 7 (sete) romances inéditos (Monólogo e Pranto; Por Que Choras, Saxofone?; Barra Funda; Apenas Um Coração Solitário; A Bacia das Almas; O Dia do Casamento; Roda-Pião). - 6 (seis) peças teatrais inéditas. - 3 (três) vídeos (participação). - 3 (três) livros de Genealogia inéditos sobre as Famílias Oliveira Barreto, Gonçalves Guimarães, e Tavares. - 1 Volume sobre Os Mestres de Outrora (em preparo). - 1 livro inédito sobre a cultura popular nos municípios de Diamantina, Serro e Conceição do Mato Dentro, intitulado “Os Horizontes do Itambé”. -1 livro em preparo sobre a vida e a obra do escultor Geraldo Teles de Oliveira (GTO), intitulado “Primitivo e Criador”. - Prosa Poética (Os Grãos de Pólen, Os Picles Dietéticos), em preparo. - Piedade e Violência (ensaio de paralelismo histórico), em preparo.

sexta-feira, novembro 18, 2005

A CULTURA AO ALCANCE DE TODOS

O Movimento AGORA, como o próprio nome indica, é sempre um evento intemporal, mas que em sua particularidade foi instaurado aqui em 1967, não tendo, no entanto, em sua generalidade princípio nem fim. É o movimento da vida com suas específicas leis naturais estudadas pela Física, pela Filosofia, pela Psicologia e vividas pela Arte através de seus instrumentos e linguagens. Foi instaurado aqui com a publicação do primeiro número do Jornal Literário AGORA em agosto de 1967, - e já no seu primeiro editorial, almejando o levantamento de um vôo ao nível de toda a modernidade da época, publica suas intenções de um não apressado alinhamento político-ideológico, mas sim as intenções de um consistente alinhamento poético-ideológico a favor do predomínio da Verdade e da Beleza nas ações humanas válidas até os dias de hoje, conforme está, lá, bem enfatizado nas palavras válidas até os nossos dias: “Uma luz fluiu de muito longe, tomou a direção de nosso tempo e hoje nos encontra diante da mesma treva que paralelamente fluiu, e essa luz progressivamente enriquecida de intensidade, olha conosco a perplexidade do homem no mundo. Essa luz, de pétala (ou de grão) em pétala (ou de grão em grão) aos poucos se fundiu no que hoje certamente é uma árvore, uma rocha, mas ainda há muita insuficiência em nós, muita fome e muita sede”. A linha do jornal estabelecia, assim, uma linha de ação cultural, associando a intelectualidade à literatura ao alcance da popularidade, finalmente desligada da torre de marfim, onde a tradicional cultura de elite selecionava e bafejava os laureados da patota e excluía as vocações sempre minimizadas e periféricas, concorrendo assim para perpetuar o quadro de carência dos valores que poderiam disseminar os princípios da verdade e da beleza em todo o contexto social, associando as culturas popular e livresca no mesmo patamar de importância, ou seja, lá onde podia ficar ao alcance de todos. Depois da publicação do primeiro número,o jornal passou a ser requisitado e distribuído extra-municipalmente, para os escritores novos e consagrados de muitos outros municípios mineiros, várias capitais do País, muitas cidades das Américas, da Europa, da Ásia e da África, graças a endereços e recomendações de escritores e de anúncios (gratuitos, claro) de órgãos da imprensa especializada de toda parte, a começar pela Revista da Biblioteca do Congresso de Washington. A partir, do segundo número as páginas do jornal passaram a receber as colaborações dos novos autores de Itapecerica, Oliveira, Guaxupé, Patos de Minas, Uberaba, Pirapora, Belo Horizonte, Juiz de Fora , Cataguazes, Salvador, Rio de Janeiro, Florianópolis etc, além dos autores locais, de espaços gráficos cativos. Dois anos atrás o nosso prezado amigo Doutor Pedro Pires Bessa publicou o livro TEXTOS E RESSONÃNCIAS, onde reproduz em tipografia reduzida a totalidade dos números publicados e parte da correspondência recebida do estrangeiro, solicitando assinaturas e anexando textos para publicação. Ali estava, pois, felizmente, uma literatura (elogiada por autores da estirpe de Drummond, Murilo Rubião, Laís Corrêa de Araújo, Ana Hatherly, Dantas Motta), sem os malabarismos de praxe em outras redondezas, honesta e palatável, legível e inspiradora, e sobretudo com a virtude de estar ao alcance de todos. O caminho é longo e continua a ser palmilhado através das ressonâncias captadas pelo amigo Pedro. Mas retroagindo um pouco aos nossos dias, ou seja, duas ou três décadas após a circulação do Jornal, alguns elementos do mesmo Movimento foram reunidos pelo poeta Oswaldo André de Melo, então Secretário de Cultura do Município de Divinópolis, para estabelecerem e nortearem os parâmetros de uma cultura primordialmente municipal aplicável aos Municípios regionais através de debates em encontros periódicos dos representantes especializados. O que na verdade aconteceu em Divinópolis, Itapecerica, Cláudio, São Gonçalo do Pará, Bom Despacho, Nova Serrana, Arcos, Pains, Formiga, com inegáveis saldos contentatórios. Cada representação indicada pela respectiva administração municipal apresentava uma espécie de identidade , ou seja, a relação de dados genéricos como extensão territorial, fontes de renda, lineamentos históricos, demográficos, estatísticos, educacionais, sanitários, religiosos, ecológicos, criminais, turísticos, festivos e recebia, para examinar e responder, propostas e sugestões de prioridades culturais a serem adotadas e mantidas em cada município, tais como: a criação e a manutenção de uma secretaria ou Departamento ou Seção (especificamente) de Cultura, com as principais e festivas atribuições de criar e manter uma biblioteca pública, um salão de exposição de artes plásticas, um acervo de antiguidades locais num museu, um salão com palco para encenações teatrais e declamatórias e musicais, um arquivo público, um serviço de preservação do patrimônio histórico e paisagístico, uma publicação periódica das produções culturais e artísticas . As reuniões foram realizadas em cada uma das cidades citadas, com muito sucesso – e a troca de conhecimentos e de influências demonstraram inequivocamente que este é o caminho prático e plausível de se fazer com que o espírito humano não seja abalroado nem soterrado pela brutalidade material, mas que ao contrário, possa pairar e brilhar em toda parte, atenuando aqui, ali e acolá os tons pesados e sombrios de uma escuridão cegante que às vezes ameaçam o nosso desejo de claridade, de salubridade.

terça-feira, novembro 15, 2005

TRÊS POEMAS DE NATAL

I

Vi um movimento do corpo
Que era da alma.
Vi Deus no cocho dos bezerros e das cabaras,
com os olhos de quem ama.

Com os olhos de quem ama vejo
os homem mais próximos dos homens.
Milhões de estrelas do céu e do mar
São milhões de sinos, vibrando.

Quem vela o sono das palavras
Que sonham, para publicá-las
nascidas de novo, esse o vermelho
Não existe sem ele.

Quem ama os detalhes do inverno
(a infiltração nos vegetais
de um raio de sol sustenido),
Quem recolhe os bemóis da cachoeira
(as recantações de salmos e parábolas),
Esse tem voz própria que anuncia:
Bendito o que vem em nome do senhor!
Feliz Natal!

II

Nasce
Jesus
Feliz
Natal
Agora sou mais ligeiro na educação dos pensamentos,
agora reconheço, em apaixonada estupefação, que a
vocação de Brãao, a passagem pelo Mar Vermelho, o
levantamento do reino de David, a deportação para a
Babilônia, a revolta dos Macabeus: todos esses acon-
tecimentos acenavam a vinda de Cristo.
No princípio era o verbo,
e o Verbo era Deus.
Agora o Verbo se fez carne
e habita entre nós:
Feliz Natal!




III

Deus quando perdoa, providencia.
Primeiro na Queda, quando o castigo foi uma alternativa:
o trabalho.
Agora,
com a humanidade morrendo em pecado
(a Bomba é a reincidência da Maçã), vem
O Seu Filho Unigênito para que todo aquele
Que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.

Ele acaba de chegar.
Nem foi preciso que os homens se limpassem do pecado.
Ei-lo a renovar as promessas,
a proclamar que o Reino de Deus está dentro de nós.