quarta-feira, dezembro 14, 2005

MEUS 15 LIVROS INÉDITOS

Primeiras linhas de cada um deles. 

1 – Monólogo e Pranto – romance, 349 páginas. 

“Depois de certas horas da noite papai cantava no escuro do quarto o seu carinho. Depois a claridade macia adornava o sono: assim eu dormia sem ver, até o sol raiar. Mas ele era ele e mais ninguém: virava e mexia e lá estava a debulhar canções. Ternura de mais, juízo de menos?” 

2 – Por Que Choras, Saxofone? romance, 249 páginas. 

“Minha mãe alta na plataforma da estação, sem saber se chorava, se sorria. O bafafá a transitar os embargos, os lapsos não vincavam a pele esticada: apagavam as palavras em vez de riscá-las.” 

3 – Barra Funda – a Evaporação dos Paradigmas - romance, 307 páginas. 

“Meu pai senhorial aos trancos e barrancos, a extorquir reverências, os bigodes grisalhos nas horas da tarde, a calça de brim, o paletó de casemira: no alpendre, maludo, ladino, caladão...”. 

4 – Apenas Um Coração Solitário - romance 192 páginas. 

“A cerveja não espumava. O Odilon estava indócil. O homem é um matador de animais, um matador de árvores, um que mata a dor..., oh, o mundo, depois de virar um hospital passa a ser um cemitério”. 

5 – Cantagalo - Bacia das Almas – romance, 174 páginas. 

“O que o senhor leva aí no balaio? - Queijos, minha senhora, queijos fresquinhos, da roça! A mulher faz a careta de repugnância, reanima os passos interrompidos na praça quase toda forrada de vegetação rasteira.” 

6 – O Dia do Casamento - romance, 186 páginas. 

“A furreca fantasma atravessa os campos secos da Vargem Grande, nas noites escuras e incertas dos dez anos posteriores ao desaparecimento da dupla dos mancomunados Sidônio e Balamão....” 

7 – Roda-Pião - Romance, 340 páginas. 

"Serra Negra do verde mais antigo, dos mares remotos, dos alimentos orgânicos. As matas nativas do século dezoito estendiam-se de um lado até a Lagoa Dourada, do outro até a Penha do Norte."   

8 – Os Contos do Apocalipse Clube - contos, 205 páginas. 

“Quem está levando o mundo para o buraco negro?, pergunta Batatais, inveterado bebedor de cerveja, na varanda descoberta da piscina olímpica do Automóvel Clube. Ninguém presta atenção nas palavras e nos pensamentos. Todos só têm bocas para comer e beber e olhar para ver e comer a semi-nudez das mulheres na orla branca da piscina esverdeada.” 

9 – Dois Patinhos na Lagoa - contos, 186 páginas. 

“Procure fazer o bem através do corpo, como ensina a Carta aos Coríntios, - assim pensava o cego Nadico, no banco do alpendre contíguo à venda do Toniquinho, na tarde domingueira do Arraial.” 

10 – A Janela dos Anos - Poesia, 94 páginas. 

“Como os velhos senhores dos arraiais mineiros que não comem nada amanhecido, que pedem água à mulher na janela da casa não pela sede da água mas pela fome da mulher Ele reassume a juventude,ainda que tardia possuído de nova força e altiva lucidez.” 

11 – A Cabeça de Ouro do Profeta - contos, 174 páginas (para uma segunda edição revista). 
“Quarto exíguo de uma grande e velha casa,avara de moradores. Uma janela de madeira aos pés da cama, e outra na parede paralela, a primeira abrindo-se para o quintal nascente e a outra fechando o jardim poente”. 

12 – Peças teatrais, a saber: 1 – O Fogo Corredor, 65 páginas; 2 – Panis Angelicus, 58 páginas; 3 – Na Fila da Vida, 69 páginas;4 - Quem Viu O Ninho da Égua? , 51 páginas; 5 – Quem Matou o Filho da Onça?, 30 páginas. 

13 – Os Horizontes do Itambé – (137 páginas) 
Pesquisa sobre a cultura popular de Minas Gerais. 

14 – A Terra do Divino - crônicas, 235 páginas. 

15 – Grãos de Pólen - (Ditirambos) – em preparo. 

16 – Os Numes Tutelares, os Mestres de Outrora – ensaios, em preparo. 

NOTA AO PÉ DA PÁGINA: Com o esfriamento das CPI’s e a conseqüente desmoralização dos poderes executivo, legislativo e judiciário, só nos resta torcer para o esquentamento da moralidade pública no Brasil através do levantamento lúcido e ativo dos outros poderes: a imprensa não-oficial (quarto poder) e o povo politizado e lúcido (quinto poder}. Caso isso não aconteça, o pior virá, ou seja,a degradação até o nivelamento por baixo com as republiquetas latino-americanas, mexicanizadas.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

TEATRO, POESIA E CONTO

Em 1983 o já talentoso e bem sucedido teatrólogo Antônio Domingos Franco passou-me uma cópia dos originais de seu livro de poemas “Pássaro na Janela”, cuja leitura, de pronto me surpreendeu pela veemência da expressão literariamente abrandada numa estilização que casava forma e conteúdo no arranjo de dramática comunicabilidade, apanágio do bom teatro e da boa poesia. Surpresa porque eu o conhecia como autor de peças e encenações teatrais de sucesso nos palcos bem equipados das grandes capitais, mormente no eixo Rio-São Paulo onde, em 1977 sua peça “Fora do Jogo”, interpretada pelos atores globais Nilson Condé e Rui Resende, mereceu o aplauso crítico de Yan Michalski, José Arrabal, Alfredo Herdenhoff e Outros colunistas especializados dos grandes jornais metropolitanos. Seu currículo de dramaturgo já ostentava a participação no Teatro Experimental e no Grupo Clássico, de Belo Horizonte e no lendário Teatro de Arena, de São Paulo, onde conviveu e contracenou com celebridades como Gianfrancesco Guarniere, Célia Helena, Antônio Fagundes, Cláudia Melo, Jorge Andrade e Outros. Sua peça “Fora do Jogo”, uma espécie de teatro dentro do teatro (a marginalidade forçada do artista e do intelectual brasileiros) nem precisou ser reescrita para ser, agora, publicada em belo e legível livro pela Editora Express, de Divinópolis. Sua atualidade temática demonstra que infelizmente a nossa realidade (social e política) também não foi reescrita até hoje. Os compartimentos, os escaninhos, são os mesmos de sempre para acolher os bafejados pela mídia e para excluir os insurgentes do viciado sistema de manter fora do jogo quem tem voz própria e dela não abre mão. Que é o caso do Antônio Domingos Franco, que só agora volta a público, não no palco, que é sua arena preferida, mas em três livros que revelam a polivalência de seu talento criador, textos que demoraram na quentura do ineditismo, mantendo, assim, a oportunidade original. Acho que ele fez muito bem ao editar os textos em vez de encená-los. Divinópolis não tem público teatral. Não tem porque os produtores de espetáculos se arrogam de sabichões e o que fazem em suas mambembes e ridículas encenações são facécias como a do pegador de passarinhos que chega dizendo xou. Falta de palcos, atores e autores não é. O que falta é mesmo a autocrítica dos autores dessas realizações mediocremente faroleiras. A peça dele “Dois na Sombra” nem precisa, a rigor, ser teatralizada, para ser um dos melhores trabalhos escritos sobre os anos de chumbo da vigência e da posteridade da ditadura militar de 1964. Nu e cru em termos de metalinguagem, uma chaga de fogo no sofrimento momentoso e na perdurável sufocação das vítimas. Sou de opinião que ele deve continuar escrevendo e publicando outros textos do naipe desse contundente “Dois na Sombra”, usando o que mais sabe, ou seja, a técnica teatral, sem a preocupação de encenar: é assim que o texto será atentamente lido e teatralmente imaginado. Aí ele arrebata dois tentos de uma vez: presenteia a literatura e futuruliza (se assim posso dizer) o teatro (que também, a seu modo, é literatura,ora essa!). O verdadeiro cristal não se quebra, já dizia o nosso querido e saudoso Drummond. Um dia, quando o gosto e o meio social amadurecerem, quem sabe?, o produtor teatral vai descobri-lo e exibi-lo condignamente. Respingos pinçados de “Dois na Sombra”: -“ Parecia um será humano, quando dormia” (página 111). -“ É só apertar que sai merda pra todo lado” ( 115). - “ Se você se acostuma com o fedor, não consegue distinguir os outros cheiros” (116). - “ Nem dormindo a gente tem sossego”. (119). - “Na tortura o cara confessa até que matou Jesus Cristo” (128). - “Estamos na mesma lata de lixo à espera do lixeiro”. (133).