sexta-feira, setembro 17, 2010

ELEIÇÕES E REJEIÇÕES

I - Delírios Momentâneos. O que se há de fazer quando a corrupção é aceita pelos não-corruptos? Salve-se quem puder? O dinheiro compra a virtude? Um fungo fustiga até mesmo o altar de Eros? Agora que a formiga tem catarro, a salamandra tem tutano? A pirâmide vira poesia? O sacana espera a morte antes de viver? Sabe esquadrinhar a fantasia e rir da lógica? Vamos aplicar um eletro-choque no ego do narciso? A ponte vai ruir sob o peso da tarde? Vai nascer cabelo no vidro da garrafa? As palavras viajam pelas ilhas e continentes nas pupilas dos poetas alvejados, na respiração das mulheres assinaladas. Era só o que faltava! De erro em erro o pensamento acerta uma vez ou outra? Ainda agora um deles dependura máscaras letais nos galhos das árvores vívidas? Uma delas corre mais, chega na frente anunciando os sacrifícios na pira de incenso da falida boa vontade dos homens cooptados.... 2 – Raciocínios Momentâneos. O que a dilapidada população brasileira espera e merece da nova gestão de um governo federal democrático: - Que os eleitores vitoriosos sejam apenas eleitores vitoriosos e não sequiosos militantes fisiológicos. - Que prevaleça o sonho de Stanislau Ponte Preta de restaurar a moralidade antes que todos se locupletem, exaurindo as fontes benéficas da nação. - Que se cumpra a sugestão de Mário Sérgio Duarte, Comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, segundo a qual o governo federal precisa desempenhar melhormente “a função vital que é sua e certamente demanda mais empenho: o controle das fronteiras. É por ali que chegam os fusis e as drogas que alimentam não só os morros cariocas como centenas de outras favelas no Brasil inteiro”. - Que se não conseguir a condenação legal das propaladas figuras hediondas do enriquecimento ilícito, que pelo menos esses meliantes fiquem interditados a novos acessos ao erário público, cuja propriedade é dos contribuintes e não dos apaniguados. - Que os três poderes da nação (executivo, legislativo, judiciário) exerçam as respectivas autonomias legais – e não fiquem cumprindo ordens de um mandatário que às vezes não passa de um tirano boçal e plantonista. 3 – Eleições e Rejeições. O novo escândalo da Casa Civil vem confirmar a certeza da inabilidade, sentida e confirmada exaustivamente, do atual governo para dirigir salutarmente a vida política nacional. As moléstias do fisiologismo e da corrupção ao longo de injustificada e cretina euforia afastam qualquer expectativa otimista quanto ao acerto das abusivaso e planejadas prorrogações de mandados nas releições de outubro e dos outros pleitos vindouros. O número dos escândalos se perdem na memória do eleitorado ingênuo – mas sujam e empobrecem a própria História do País. No caso da perpetuação no poder da militância de um socialismo desmascarado em tantos países, pode-se afirmar que surdo é quem não quer ouvir, e cego é quem não quer ver. Chega de tantas figuras hediondas no primeiro plano das ações, atritando as pessoas de uma sociedade boquiaberta. Chega! Que história a atual política brasileira está escrevendo? Segundo Drayson “a história é o estudo da maneira como a humanidade se torna o que é e fica consciente de si mesma”. A nossa continua sendo uma História mal contada?

sábado, setembro 11, 2010

POESIA (*)

Adaptação de Lázaro Barreto. Caverna dos nove tesouros, segundo Dalton Trevisan, constituída de: Passagem secreta para a gruta encantada. Límpida fonte onde nadam hipocampos e lambaris. Golfo e promontório. Ninho escondido de penas de beija-flores. Garça azul de bico sanguíneo em vôo rasante. Búzio com cantiquinho de coruira madrugadora. Ilha descoberta pelo náutico sedento. Dunas calípigias movediças. Baia e península. Ilha descoberta pelo náutico sedento. Passagem secreta para a gruta encantada. “Delta de infindos paraísos”. Golfo e promontório. Baia e península. (*) - ( versos (possíveis) pinçados (menos o antepenúltimo) de Dalton Trevisan em “O Maníaco de Olho Verde”, Editora Record, 2008 – Rio de Janeiro, RJ. .

HUMOR E TORPOR

Leitura de Millôr. Segundo uma página da Internet Millôr Fernandes (*) teria escrito que o Governo Militar, acusado de tortura, violência, falta de democracia, etc., não foi acusado de enriquecimento ilícito, corrupção, legislar em causa própria, incompetência administrativa, mensalão, dólares na cueca, aloprados, apoio a guerrilheiros ligados ao crime comum, etc., etc., etc. E constata que o PT não quer ver mais militares no Poder, pelas seguintes razões de malefícios causados por eles: - Tiraram do cenário bucólico a Via Dutra de uma só pista através de desnecessária duplicação. Fizeram o mesmo com a rodovia Rio-Juiz de Fora. Construíram a Ponte Rio Niterói, extinguindo o trabalho da barcaça que levava meia-dúzia de automóveis em cada viagem. Criaram esse maldito Pró-Álcool, receando que o petróleo acabasse. E para apressarem o fim do ouro negro, deram um impulso gigantesco, criando a Petrobrás. Elevaram o Brasil da 45ª. economia do mundo para a 8ª., empobrecendo nossa cultura popular. Tiraram da boa vida ociosa 13 milhões de brasileiros, através da enorme oferta de empregos. Propiciaram ao Brasil, em 1971 a meritória posição de segundo maior construtor de navios no mundo. Construíram as hidrelétricas de Tucurui, Ilha Solteira, Jupiá e Itaipun sem a menor necessidade. Instalaram milhares de torres de alta tensão, levando energia elétrica em grande parte do território nacional, acabando com a mão de obra dos lenhadores e fabricantes de velas e lamparinas. Implementaram os metrôs de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza, desvalorizando o serviço prestado pelos bondes tão aprazíveis. Baniram do Pais, indevidamente, pessoas ingênuas que queriam implantar aqui regimes políticos que faziam a desgraça de russos, cubanos e chineses. Vale acrescentar que os militares são muito estressados, fazem tempestade em copos de água só por causa de alguns assaltos a bancos, seqüestros de diplomatas, ninharias.... Tiraram o interesse da política, uma vez que os deputados e senadores daquela época não nos brindavam com seus deliciosos escândalos que fazem a alegria da gente hoje. Além disso inventaram um tal de FGTS, PIS e PASEP, MOBRAL, FUNRURAL, etc. Além de tantas besteiras trouxeram a TV a Cores, criaram as bobagens conhecidas como EMBRATEL, TELEBRÁS, ANGRA I e ANGRA II, INPS, IAPAS, DATAPREV, LBA, FUNABEM, um montão de trombolhos. Depois que entregaram o governo aos civis, estes, nos vinte anos seguintes não fizeram nem 10% dos estragos que eles, militares, fizeram. E, além disso, eles, pobres coitados, não conseguiram ficar ricos. E é por isto que dizemos: Militar no Poder, nunca mais! (exceto, é claro, os domesticados). (*) – Millôr Fernandes é uma das pessoas mais lúcidas e criativas da História da Civilização Brasileira. Anda sumido da imprensa, ultimamente. Envergonhado dos desatinos dos atuais salvadores da pátria? Mas sua ironia no senso de humor está bem afiada. Ainda bem! - PICLES. - O inefável Barão de Itararé diria dos aquinhoados do governo: “fazem da vida pública uma extensão da privada”. - A pugna eleitoral deste ano está desequilibrada numericamente. O número de integrantes do lado doentio é muito maior do que a o do lado sadio. - Segundo uma gozação na Internet um debochado respondia ao papa, que recomendava a comunhão constante: “Há anos que comunguei”. O papa replicou: “Você tem que comungar sempre!” E o debochado acrescentou: “eu disse que há anos que como um guei”. - Poesia e Política. Em face dos últimos acontecimentos, como diria Drummond, ando propenso a considerar que a Poesia é o Bem e que a Política é o Mal. As duas qualidades humanas (as principais?) andam tão distanciadas uma da outra, que chego a pensar que o problema do relacionamento de ambas é que a Poesia nunca desafina e a Política, vira e mexe, se estrepa toda. A impressão é que não existem poetas na política (os que entram logo saem ou deixam de ser poetas) nem políticos na poesia, na qual se sentiriam como peixes fora da água. Mas não posso chegar ao extremo de afirmar que todo político é um demônio nem que todo poeta é um anjo. Há exceções, claro. Transcrevo, aplaudindo, as palavras de Bruno Tolentino, grande poeta, falecido em 2007, a respeito dos bons compositores e péssimos escritores Caetano Veloso e Chico Buarque. Sobre o primeiro: “ele está virando tese de professores universitários.... É preciso botar os pingos nos is. Cada macaco no seu galho, e o galho de Caetano é o showbiz. Por mais poético que seja, é entretenimento. E entretenimento não é cultura. Sobre p Chico, ele escreveu: “No Brasil, há muita falta de respeito pela realidade, pelo próximo, pela legalidade.... A verdade foi substituída pela verossimilhança: a literatura pela imitação da literatura. O crítico Wilson Martins mostrou com muita acuidade e mordacidade que os romances de Chico Buarque são uma reedição do nouveau roman, que já morreu. Conheci toda aquela gente, e sai correndo. Chato existe em todo lugar, não só no Brasil”. “Ezra Pound afirmou que só em seus tempos de decadência a poesia se separava da música. E é assim quando o mundo acaba: não com uma canção, mas com um soluço”. (Lawrence Ferlinghetti, no livro “Vidas Sem Fim”, tradução de Paulo Leminski, Editora Brasiliense, 1984, São Paulo, SP.).

quinta-feira, setembro 02, 2010

VALSA NEGRA E INFERNO

O campo da literatura é incansavelmente fértil, tanto na reprodução como na criação de novas espécies vivas. Vira e mexe o leitor atento descobre os novos autores de espécies diferenciadas de flores e frutas nessa jardinagem infindável. É o caso da floração das belas e importantes obras de Patrícia Melo, ficcionista brasileira de primeiro mundo. Tenho em mãos, intensamente lidos, os romances VALSA NEGRA e INFERNO, publicados pela Companhia das Letras, SP, em 2003 e 2000, respectivamente. O estilo, em “Valsa Nega”, lembra Philip Roth (ela até o cita na página 37), na desvairada concatenação dos meandros e caminhos da vida contemporânea. Sabem mascar muito a goma antes de saborear e engolir. Ambos circulam airosamente nos circuitos internos das vivências individuais contextualizadas socialmente. O personagem central do livro de Patrícia (um músico do tipo dos sequiosos Vinicius de Moraes e Raul Mascarenhas) sabe que não terá paz depois de casar-se com uma mulher trinta anos mais jovem, comparando-se a um personagem shakespeariano que dedicava cada um em três pensamentos ao seu túmulo. Ávido e truculento ele faz de sua parceira, ao mesmo tempo, uma vítima e uma algoz de sua lubricidade. As cenas eróticas são bem dosadas, devidamente envolvidas do toque feminino refinado e veraz. O parceiro se felicita, sabendo de que nada valeria outras qualidades inerentes como a memória e o talento se o tesão faltasse ou escasseasse. Assim, vivendo às turras entre o prazer e o desgosto. Na luta íntima, sem trégua, de sua individualidade ansiosa, ele merece da amada a dureza de algumas verdades: “você odeia todo mundo. Odeia minha mãe.... Odeia minha avó.... Você de costas para o mundo, o mundo de costas para você....Esse é o seu projeto de vida”. O mal dele é depois diagnosticado pelo psiquiatra: transtorno obsessivo compulsivo, TOC, - interpretando suas arengas amorosas, e citando Freud: “a vida da mulher dele era um inferno”. Um livro de leitura prazerosa, no qual a sexualidade expostas em muitas páginas está muito bem revestida de legitima sensualidade. Na leitura do romance “Inferno” há, também, muita sexualidade, mas pouca sensualidade. O cenário das favelas cariocas é contundente – e os personagens (traficantes e usuários de drogas e suas vítimas) estão mais para o sentido animalesco do que para o humanístico. São violentos, incultos, chefiados por criminosos descarados, convictos da própria vilania. O que me impressiona é que a autora enfrenta a dureza temática com muita naturalidade, notável acuidade e talento. Consegue coesão, perfeita conexão do viés sociológico do quadro realístico com o viés literário do quadro romanesco. O enquadramento das partes é perfeito, a montagem dos pormenores caóticos num conjunto de aceitável credibilidade, é lúcido e cativante. Documento e arte ao mesmo tempo? A autora organiza a bagunça dos dados, emparelha a disparidade, aglutina as aversões, neutraliza o mau gosto da pornografia, atenua as menções nuas e cruas, entende do riscado machista, sabe manter a lisura, a imparcialidade, a desenvoltura de uma narradora de nervos de aço diante do infinito miserê do cenário e dos personagens. É assim mesmo, creio, que deve ser um realismo legível copiado de originais quase ilegíveis. Os personagens evocam a significação do dito popular “dema a dema não tem escolha”: todos são uns putos. Os amigos e companheiros de cada um vão se estranhando porque se vendem a quem der mais – e todos têm seus preços estipulados nas respectivas habilidades operacionais exigidas pelas circunstâncias dos embates entre os bandos e as facções. O dinheiro faz a coragem e o medo dos contendores. Por qualquer “dê cá esta palha”, é tiro e queda – e era uma vez o amigo provisório e ou o traidor de circunstância. Vislumbra-se ao longo da leitura a ineficácia do combate à criminalidade, tendo em vista a comunhão entre os transgressores e os repressores: uma espécie de coabitação ambiental, de reciprocidade não declarada, mas quase espontânea. Toda ação repressora, por mais enérgica que seja, é sempre apenas contingente, nunca definitiva. Quem é preso logo volta da prisão ou, se não volta, fica mexendo com os pauzinhos lá dentro, instruindo e predominando nas ações dos asseclas do lado de fora. Se alguns são banidos (mortos) nas refregas entre os bandos, logo outros, que já ambicionavam e aguardavam, assumem as lacunas. Um personagem que matou outro alega que assim procedeu porque o outro estava de braços dados com o demônio. E a mãe do desalmado José Luís, afirma na página 272 que “o demônio quando vem, vem disfarçado”. Subir ao mundo pavoroso da favela é como descer ao inferno e testemunhar os mínimos detalhes da Crueldade. O final impreciso: “José Luis subiu lentamente o morro, sem saber exatamente o que fazer, os cachorros na frente, latindo”. Calha bem na tessitura do contexto recheado de violências e ações e de situações. Fico pensando como e porque ela escreveu um livro tão escuro e pesado, sendo uma pessoa normal e escolada.... Escreveu porque, como o Dante da divina comédia, é uma pessoa atirada, persuasiva, talentosa, escritora de mão cheia.